Título: EUA discutem novo estímulo à economia
Autor: Solomon,Deborah
Fonte: Valor Econômico, 03/07/2008, Internacional, p. A11

Com a chegada do último lote de cheques de estímulo do governo americano nas caixas de correio, alguns economistas e membros do Partido Democrata, de oposição, estão falando de novo na necessidade de maior intervenção do governo para escorar a debilitada economia dos EUA.

O pacote de estímulo de US$ 152 bilhões foi lançado para dar um reforço no curto prazo e muitos economistas acham que ele levou os americanos a gastar mais. Mas a maioria dos cheques terá sido recebida até 11 de julho e a maioria dos benefícios deve se esvair até agosto, ao mesmo tempo em que o medo de uma recessão continua se infiltrando no país.

Lawrence Summer, ex-secretário do Tesouro de Bill Clinton, e Robert Shiller, economista da Universidade Yale, já defendem estímulos adicionais. Em Washington, políticos democratas estão discutindo leis que possam reforçar a economia. E os candidatos à Presidência também arquitetam formas de impulsionar o crescimento.

Contudo, ainda não há acordo sobre a forma de um novo estímulo e quanto ao prazo para ele ser concedido. Alguns são favoráveis a outra rodada de cheques de reembolso, outros defendem investimento em infra-estrutura.

Há também muitas pessoas, entre elas alguns economistas, para as quais um novo pacote de estímulo imediato é uma ação errada, porque isso faria muito pouco para resolver problemas subjacentes que atormentam a economia.

"Não se pode pôr um band-aid num câncer", diz David Rosenberg, economista da Merrill Lynch.

A economia cresceu a um ritmo anualizado de 1% no primeiro trimestre, apoiada em parte pelos cheques de estímulo. Espera-se um crescimento semelhante para o segundo trimestre, mas analistas estão preocupados com o que vai acontecer no resto do ano, depois que o impacto do benefício desaparecer. A confiança do consumidor baixou por causa da preocupação com o desemprego e o aumento do petróleo, dos combustíveis e de outras commodities. A inflação continua preocupando e é possível que o Federal Reserve, o BC dos EUA, detenha seus cortes nos juros. Projeções econômicas mostram um enfraquecimento durante todo este ano que avançaria até o primeiro trimestre de 2009.

Os cheques estimularam o consumo, mas o impacto deles foi embotado pela contínua alta do petróleo. Em discurso no mês passado, o secretário do Tesouro, Henry Paulson, admitiu que o constante aumento da gasolina reduziu o resultado do esforço do governo. "Enquanto o estímulo está tornando nossa economia mais forte do que ela poderia ser sem ele, os ventos contrários do alto preço do petróleo podem prolongar a desaceleração econômica", disse Paulson.

Na segunda-feira, o presidente George W. Bush assinou lei estendendo os benefícios para desempregados, o que pode lhes dar dinheiro adicional para gastar. Além disso, o governo não tem plano de lançar outra rodada de estímulos.

"Obviamente estamos sempre procurando idéias, de olho na economia, e as pessoas estão falando sobre essas coisas, mas achamos que o estímulo dado foi grande o suficiente para ter impacto", diz Phillip Swagel, subsecretário do Tesouro para política econômica.

Alguns renomados economistas dizem que não há muita chance a não ser fazer mais alguma coisa. Summers diz que os EUA podem sofrer uma longa retração econômica e que o Congresso deveria se mexer rapidamente.

"Como recessões associadas a problemas financeiros nunca são curtas e as nuvens de tempestade estão se formando rapidamente, há mais risco de o estímulo chegar muito tarde do que muito cedo", diz Summers. Entre os remédios que ele indica: investimento em infra-estrutura, o que ajudaria a criar empregos, incentivar a indústria da construção e dar injeção de dinheiro nas prefeituras. Já Schiller, como fez numa recente coluna publicada no "New York Times", argumenta a favor de mais cheques de reembolso.

O candidato republicano à Presidência, John McCain, que apoiou o pacote dos cheques e propôs redução de impostos, está avaliando se faz sentido outra emissão do tipo, segundo um dos seus assessores. "Estamos olhando agora se há algum mérito em tentar isso de novo", informou o assessor, mas disse que os cheques não vão resolver a baixa nos preços dos imóveis e o aumento do custo de vida.

O candidato democrata, senador Barack Obama, que também voltou a favor dos cheques de estímulo, tem falado sobre investimento em infra-estrutura para estimular o crescimento econômico.

A presidente da Câmara de Deputados, a democrata Nancy Pelosi, segundo seu porta-voz, quer repassar ajuda financeira aos Estados e fundos para projetos de infra-estrutura. O deputado democrata Barney Frank, que preside a comissão sobre serviços de financiamento de imóveis residenciais, apóia legislação que dê às cidades e aos Estados US$ 15 bilhões para que adquiram propriedades executadas judicialmente.

Frank diz que não é favorável a outra rodada de cheques de reembolso porque isso seria tratado mais como um corte permanente de imposto. "É mais provável que eles sejam economizados na segunda vez", diz o deputado.

Alguns economistas consideram que se concentrar em soluções de curto prazo é errado. E questionam se é apropriado tentar estimular a economia quando ela ainda está crescendo, apesar de pouco. Rosenberg, da Merrill Lynch, diz que a queda no preço dos imóveis e preços recordes de gasolina não serão corrigidos com a construção de pontes ou cheques de reembolso. "Isso é pegar dinheiro de impostos e jogá-lo na privada."