Título: Dólar barato e especulador elevam preço do petróleo
Autor: Schüffner , Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 03/07/2008, Empresas, p. B8
Os preços do petróleo devem continuar disparando mas o mundo não vive uma crise de energia. Afirmações como essas ajudaram a alimentar as discussões sobre as razões da escalada dos preços do petróleo no mercado internacional no 19º Congresso Mundial de Petróleo que está sendo realizado em Madri. A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) atribuiu o comportamento dos preços à especulação financeira dizendo que não falta petróleo fisicamente.
O secretário-geral da Opep, Abdalla Salem el- Badri, disse que 70% dos contratos de óleo cru na bolsa de Nova York estão em mãos de especuladores e cobrou algum tipo de regulação. O presidente do cartel, Chakib Jelil, apontou a desvalorização do dólar americano e a política monetária dos Estados Unidos como os verdadeiros responsáveis pelos problemas de preço dos combustíveis.
Assim, segundo Jelil , o mundo não vive uma crise de energia, apesar de ele mesmo prever que os preços possam chegar a US$ 170 no fim do verão no hemisfério Norte, em setembro. Segundo cálculos da Opep, cada 1% de queda do dolar em relação ao euro provoca um aumento de US$ 4 no barril de petróleo.
O cartel tambem nega que os países membros tenham interesse na manutenção dos preços altos, atribuindo ainda a volatilidade do mercado a dúvidas sobre a evolução da demanda e o ajuste da oferta.
O presidente da Petrobras, Jose Sergio Gabrielli, acha que os preços permanecerão "muito altos por muito tempo e vão enfrentar uma grande variação decorrente da entrada e saída rápida de capitais financeiros no mercado de petróleo".
Gabrielli diz que movimentos especulativos afetam mais a variação de curto prazo do preço do petróleo. Segundo ele, não há como explicar, com base nos fundamentos do mercado, variações de US$ 6 a US$ 7 por dia no valor do barril. E aposta que a tendência de médio prazo é que o preço se eleve por causa da diferença entre oferta e procura.
"A oferta esta crescendo, porem, aumenta em níveis menores que a demanda, que é diversificada e diferenciada em termos de países emergentes e não emergentes. Esses fenômenos de aumento da demanda não apontam para uma redução porque refletem essencialmente à inclusão social, a melhoria das condições de vida de milhões de pessoas no mundo e a urbanização acelerada de países como China e Índia. E todas essas atividades são intensivas em energia. Isso faz, portanto , que haja um aumento da demanda. Já a oferta tem crescido mas encontra limitações tanto dos grandes produtores com dificuldades de acesso a reservatórios como por questões geolopolíticas", ponderou Gabrielli.
Dados apresentados durante o Congresso pela da estatal chinesa CNOOC mostram que, de fato, não há como esperar redução na demanda, pelo menos na China. Segundo o presidente da companhia, Fu Chengyu, o consumo de petróleo per capita na China passará de 2,1 barris em 2006 para 5 barris, este ano. O valor ainda é inferior aos 17 barris per capita consumidos pelos países desenvolvidos.
Para Gabrielli, pelo menos nos próximos cinco anos esse mercado viverá com aperto entre oferta e demanda, estoques baixos e grande volatilidade de preços. E dentro de cinco anos, aproximadamente, ele acha provável que se alcance maturidade nos investimentos refino, exploração e produção além de ajustes de longo prazo da demanda com aparecimento de substitutos e mais eficiência energética.
A Opep diz que a oferta aumentará em 2010 com US$ 150 bilhões em investimentos. Chakib Jelil, que além de presidir a organização é ministro de Energia da Argélia, disse que os aportes aumentarão a participação do cartel na oferta de petróleo dos atuais 40% para 52%.
De qualquer modo, a crise de oferta já levou alguns países a marcarem novas licitações de áreas exploratórias. O Iraque anunciou que procura parceiros, região em que a Petrobras informou não ter interesse. Além disso, a PeruPetro fará um leilão de áreas ainda esse ano.
Ontem, quando questionado sobre o repasse de preço do petróleo para o mercado brasileiro, o Gabrielli disse que os repasses dos preços internacionais para o mercado interno não são imediatos. Explicou que a empresa tem uma dinâmica muito peculiar com o mercado do Brasil, que responde por 85% das receitas.
Lembrando que 25% da gasolina é misturada com etanol, Gabrielli disse que não haverá repasse imediato das oscilações de preços internacionais, o que não significa que o país esteja imune aos efeitos da alta mundial.