Título: CDB mais generoso
Autor: Monteiro,Luciana
Fonte: Valor Econômico, 03/07/2008, EU & Investimentos, p. D1

Taxas mais generosas em CDBs sempre foram uma realidade bastante longínqua dos pequenos investidores. Mas a concorrência para lá de acirrada entre os bancos para captar no mercado resulta atualmente numa situação bastante atípica: aplicações menores, mas com remuneração de 95% ou até 100% do CDI. Instituições como Unibanco, Santander e Citibank, por exemplo, já permitem que o investidor de menor porte obtenha em CDBs uma taxa de 100% do CDI - o que representa um retorno potencial de 12,25%, levando-se em conta a Selic de hoje, muito acima do que pagaria um fundo. Na maior parte das vezes, no entanto, é preciso permanecer na aplicação por dois ou três anos.

No Unibanco, com R$ 1 mil já é possível obter 100% do CDI. Num fundo DI do mesmo banco, por exemplo, esse mesmo investidor pagaria uma taxa de administração de 4% ao ano, o que, no fim das contas, equivaleria a 7,76% ao ano, ou 63% do CDI, considerando-se que o referencial continue em 12,25%. Para obter esse retorno do CDB, no entanto, o cliente tem de permanecer por pelo menos dois anos na aplicação. Caso decida resgatar antes desse prazo, haverá uma redução na rentabilidade proporcional ao período de permanência.

O esforço dos bancos em atrair recursos para CDBs já resulta numa captação mais de seis vezes maior no ano em comparação aos fundos de investimento no mesmo período. Segundo dados do Banco Central, o ingresso de recursos em CDBs soma R$ 120,093 bilhões no ano até o dia 24, enquanto o setor de fundos apresenta entradas que somam R$ 18,788 bilhão - puxados em grande parte pelas aplicações de Estados e municípios - e a caderneta de poupança, R$ 2,590 bilhões. Em junho, até o dia 24, a captação dos CDBs chegava a R$ 19,600 bilhões, o terceiro melhor mês para a aplicação desde 2002, perdendo apenas para abril, com R$ 32,554 bilhões, e maio, com R$ 29,102 bilhões.

Por trás da alta dos juros dos CDBs está a crise internacional com os papéis "subprime", que dificultou a captação de recursos dos bancos no exterior. Com isso, a saída foi captar mais dinheiro aqui, pressionado as taxas. Depois, no início de fevereiro, o Banco Central fixou um compulsório sobre os recursos repassados pelas empresas de leasing para os bancos, que usavam esse dinheiro para financiar empréstimos. Além disso, neste mês, os bancos têm de atender às exigências do acordo da Basiléia II, que eleva o capital necessário para operações de crédito.

Em meio a todo esse aperto de liquidez, há o crescimento do crédito. Apesar de os dados recentes mostrarem uma velocidade menor no nível de empréstimos, ainda há expansão nesse setor, e os bancos têm de continuar captando no mercado local para acompanhar esse movimento, lembra Arthur Riedel, superintendente de operações mesa-clientes do Banco Itaú. "Apesar de estar se arrefecendo um pouco, ainda há aumento na carteira de crédito", diz.

Mesmo o Citibank, que não é lá muito conhecido por adotar estratégias tão agressivas no segmento de varejo, está oferecendo o CDB Verde, que paga 100% do CDI para aplicações a partir de R$ 10 mil e dedica parte dos recursos para um projeto de reflorestamento. Um fundo DI oferecido pela instituição, no entanto, cobra taxa de administração de 2,55% ao ano, o que equivale a 77% do CDI, ou 9,44% ao ano. Para ter acesso a essa taxa maior do CDB, no entanto, o investidor precisa deixa o dinheiro aplicado por pelo menos três anos.

Outro é o Santander. Para atrair correntistas, o banco oferece uma taxa de 100% para investimentos de R$ 50 mil. Além disso, para os atuais clientes, a instituição oferece o CDB progressivo, cuja aplicação inicial é de R$ 30 mil e as taxas vão de 50% do CDI (para quem permanece por seis meses) a 102% do CDI (para quem ficar mais de três ano). "É a forma de recompensar o investidor de longo prazo com uma taxa que dificilmente ele teria acesso com esse valor menor", diz Marcus Matos, superintendente-adjunto de captação para o varejo.

Além de taxas mais interessantes, contribui para a procura aquecida por CDBs o aumento da aversão ao risco, que tem levado muitos investidores a sair de aplicações mais arriscadas, avalia o executivo. Junta-se a isso, o fato de os fundos multimercados - que atraíram um volume muito grande de recursos no ano passado -, estarem com baixas rentabilidades e, com isso, muitos estão migrando para instrumentos de renda fixa, afirma Riedel, do Itaú.

Com tanta oscilação no mercado nos últimos meses, o cliente ficou mais conservador, diz Eduardo Jurcevic, superintendente executivo de investimentos do Banco Real, que conta que só neste ano a instituição captou R$ 21 bilhões, um crescimento de 15% no varejo ante o ano passado. Na aplicação oferecida pela instituição, a remuneração aumenta à medida que há novas aplicações, levando em conta o total investido. Para um inicial de R$ 500,00, a taxa é de 80% do CDI e, conforme os aportes crescem, o ganho pode chegar a 100% caso o volume atinja R$ 400 mil. "A dinâmica de forte captação deve se manter por mais um tempo, diante da volatilidade e do fato de o investimento estar mais atrativo."

O crescimento em CDBs no Banco do Brasil já é 30% superior ao registrado em todo o ano passado, diz Carlos Antonio Decezaro, gerente-executivo da diretoria de varejo. Para aplicações acima de R$ 100 mil, é possível fazer no banco um CDB swap, em que o investidor poderá trocar o CDI por outro indexador, como o IGP-M, por exemplo.

O Bradesco é outro que pretende lançar um CDB com taxas progressivas à medida que o investidor coloca mais dinheiro na aplicação. De acordo com Marcos Villanova, diretor da área de Investimentos do Bradesco, a captação de janeiro a maio foi 65% superior ao volume registrado no mesmo período do ano passado somente no varejo. "Com a maior necessidade de caixa por parte do banco, houve uma orientação para a venda de CDBs na rede", admite o executivo. "Agora, isso deve se acomodar; o movimento vai continuar forte, mas não no mesmo ritmo dos meses de abril e maio."

O CDB é uma modalidade de investimento em que o aplicador não nota oscilação nos ganhos, algo importante num período de forte volatilidade. Do total presente no mercado, os papéis pós-fixados, que acompanham a variação do Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI), representam a grande maioria. Em praticamente todos os bancos, o investidor normalmente pode obter taxas mais atraentes do que a média caso concentre suas aplicações na instituição.