Título: CNI vê sinais de desaceleração na atividade em maio
Autor: Galvão , Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 04/07/2008, Brasil, p. A3

A indústria, em maio, deu sinais de desaceleração do crescimento, o que significa rompimento com o forte desempenho verificado no primeiro trimestre. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) apurou que, na comparação com os dados dessazonalizados de abril, o faturamento do setor aumentou 1,1%, com estabilidade nos indicadores de emprego (0,2%), horas trabalhadas (-0,1%) e utilização da capacidade instalada (82,8%). Segundo o economista da entidade, Paulo Mol, maio mostrou uma situação nova, com inflexão provocada pela continuidade da valorização do real e mais inflação.

"O cenário é diferente do início do ano. As empresas sentem o aumento dos custos e a elevação dos juros vai desestimular investimentos", lamenta Mol. O gerente de Pesquisas da CNI, Renato da Fonseca, também alerta que o maior perigo de interromper a trajetória de crescimento da economia é a dificuldade para retomá-lo. "As restrições monetária e fiscal seguram a economia com reduções do investimento e do consumo", diz.

Fonseca reconhece que o fato de a inflação ter origem no exterior - alta das commodities agrícolas e o choque do petróleo - não significa imunidade contra esse aumento generalizado dos preços no país. As indústrias já estão sentindo a elevação dos custos de produção.

Os indicadores industriais da CNI, apesar dos sinais de desaceleração, revelaram crescimentos expressivos nas comparações de maio com o mesmo mês em 2007 e no confronto dos períodos janeiro-maio. Nos primeiros cinco meses deste ano, faturamento (7,9%), horas trabalhadas (5,8%), emprego (4,5%) e massa salarial (5,6) foram maiores que os do mesmo período de 2007. Analisando apenas o que ocorreu em maio, os crescimentos de faturamento (5,3%), horas trabalhadas (2,7%), emprego (3,8%) e massa salarial (4%) foram um pouco mais modestos que os de maio do ano passado.

Além da perda de intensidade no crescimento, os economistas da CNI procuraram ressaltar que a utilização de 83,2% da capacidade instalada - índices originais - mostra estabilidade em relação a maio de 2007 (83,1%). Esse fato não era observado desde julho de 2006, o que mostra maturação de investimentos. Isso porque, no período, houve elevações das horas trabalhadas (2,7%) e do emprego (3,8%). Na análise dos índices dessazonalizados, a UCI teve aumento de 82,3% (maio de 2007) para 82,8%. Outro fato novo verificado, em maio, foi que dez setores tiveram redução do uso da capacidade instalada, número maior que os sete que tiveram crescimento em relação a maio de 2007.

A CNI informou que o faturamento do setor, em maio, foi 1,1% maior que o de abril, mas não voltou ao pico de fevereiro. A justificativa para essa "freada", segundo Mol, é o câmbio. A cotação média de R$ 1,66 para o dólar, em maio, foi a menor da década, o que deprimiu a receita das exportações que respondem por cerca de 25% do faturamento industrial.

O aumento do faturamento foi bastante concentrado no período janeiro-maio. Os destaques, segundo a CNI, foram para veículos automotores, outros equipamentos de transporte, máquinas e equipamentos e refino de petróleo/álcool. A indústria teve, em 2007, faturamento 5,4% maior que o de 2006. Mas, sobre este ano, Mol e Fonseca disseram que não há, ainda, como prever o que vai acontecer. Eles admitiram que a inflação maior deprime o poder aquisitivo da população mais pobre, justamente a que vinha apresentando maior dinamismo.

"Atualmente, a queda da renda tem mais impacto que o aperto monetário", disse Mol. Fonseca justificou que o aumento dos juros afeta a expectativa e as grandes empresas já têm um cenário muito mais cuidadoso.

Nas horas trabalhadas, a CNI verificou alguma acomodação, após um período de um ano de intensa expansão. Os setores que mais aumentaram sua atividade nos primeiros cinco meses foram outros equipamentos de transporte, máquinas e equipamentos, veículos automotores e alimentos/bebidas.

A CNI também informou que o emprego vem crescendo há mais de dois anos, mas há alguma acomodação. Os mais dinâmicos no emprego, de janeiro a maio, são outros equipamentos de transporte, máquinas e equipamentos, veículos automotores e alimentos/bebidas.