Título: Gabeira questiona ajuda a Crivella
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Fonte: Valor Econômico, 04/07/2008, Política, p. A10
A discussão sobre o assassinato de três jovens do morro da Providência (região central do Rio de Janeiro) virou um debate político sobre a disputa eleitoral na capital fluminense hoje. Depois de negar o envolvimento do Exército com questões eleitorais, o ministro Nelson Jobim (Defesa) e os deputados Fernando Gabeira (PV-RJ) e Chico Alencar (P-SOL-RJ) - ambos são candidatos a prefeito no Rio - trocaram acusações sobre a participação de militares em projetos sociais.
O bate-boca ocorreu ontem durante audiência pública que reuniu três comissões permanentes da Câmara: Direitos Humanos, Relações Exteriores e Defesa Nacional, além de Segurança Pública. Para Gabeira e Alencar, o governo federal privilegiou o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) - que também é candidato a prefeito no Rio de Janeiro - ao implementar o projeto "Cimento Social", que é de sua autoria, no morro da Providência. Segundo os deputados, a escolha favoreceu Crivella porque o morro está localizado em uma área com muita visibilidade.
Jobim rebateu as acusações dos deputados, informando que o objetivo do projeto é atender a famílias carentes do morro da Providência independentemente de quem partiu a idéia. Mas o ministro reconheceu que a sugestão foi feita por Crivella. No entanto, ele disse que é "absolutamente normal" o governo executar projetos que são oriundos de emendas parlamentares.
Mas os argumentos do ministro não convenceram Gabeira e Alencar. Indignados com as explicações de Jobim, os dois ressaltaram que a iniciativa do governo federal favoreceu eleitoralmente Crivella. Eles mostraram panfletos em que a imagem do senador estava associada ao projeto "Cimento Social".
"(Essa discussão) é secundária a essa tragédia (que provocou a morte de três jovens), (mas deve-se debater) o uso político do Exército brasileiro", afirmou Alencar. "O Exército brasileiro não pode assumir como seu o projeto 'Cimento Social'", disse ele.
Em seguida, Gabeira afirmou "é um projeto social absurdo porque as pessoas foram cadastradas por integrantes da Igreja Universal e não pelo (programa) Bolsa Família". Jobim disse que os cadastros para as obras na região foram feitos por militares do Exército e não pela Igreja Universal.
Ontem, o juiz Marcello Granado, da 7ª Vara Federal Criminal ouviu o depoimento do tenente Vinícius Ghidetti, apontado como o mandante da entrega de três jovens do morro da Providência aos traficantes: "Queria só dar um susto. Nunca ia trocar a vida de três rapazes pela minha 'moral'", afirmou o tenente . O oficial e outros dez militares são acusados de triplo homicídio.
O tenente alegou que teve raiva dos rapazes porque foi hostilizado e quase foi agredido por um deles.