Título: Resistência e ousadia
Autor: Pinto, Marina Barbosa
Fonte: Correio Braziliense, 25/02/2011, Opinião, p. 19

Há exatos 30 anos, o Andes-SN começava a trilhar sua trajetória, que hoje se confunde com as principais lutas e conquistas sociais do país. Fundado como associação, em 1981, quando ainda era proibida a sindicalização dos servidores públicos federais, a Andes se transformou em sindicato tão logo a nova Constituição foi promulgada, em 1988. Mas, mesmo antes de oficializar seu caráter sindical, o Andes-SN já se integrava ao cotidiano docente e assumia a luta pela universalização da educação pública e gratuita e pela redemocratização do país.

Desempenhou importante papel nas lutas contra a ditadura, pela anistia aos presos políticos, pela Constituinte, pelas Diretas Já! e na construção de um novo serviço público. Não foram menores os esforços pelo fortalecimento da educação pública: a construção do Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) democrática e, adiante, do Plano Nacional de Educação da Sociedade Brasileira (PNE).

E as greves por mais recursos, mais docentes, ampliação de vagas? Sem elas, certamente a universidade pública seria muito diferente...Talvez sequer existisse na concepção que a conhecemos. Greves por verbas, por salários, pela carreira, pela democratização da universidade, pela defesa da autonomia universitária. Todas vitoriosas, porque organizavam e faziam avançar o sentido da luta. Muitas com ganhos históricos, como a greve de 1987, na qual foi conquistado o projeto de carreira. Outras dramáticas, como a de 1998, que resultou na greve de fome que sensibilizou toda a sociedade.

Nesses 30 anos, queremos olhar para o passado com o objetivo de renovar nossa militância para as lutas que se anunciam como necessárias e que mantenham o Andes-SN na trilha dos caminhos de liberdade, autonomia e democracia sindical, de defesa da educação pública e gratuita em todos os níveis e de um projeto de sociedade realmente humana e democrática.

Há poucos dias um novo governo teve início. As práticas adotadas por ele, entretanto, têm se mostrado bem conhecidas: privilégios aos empresários, como no episódio da desoneração da folha de pagamento, e arrocho para os trabalhadores, como no tímido percentual aprovado para reajuste do salário mínimo. No âmbito do serviço público, são novas ameaças aos trabalhadores e à população brasileira, como deixa claro o projeto de privatização dos hospitais-escola.

Mas há novos ventos que sinalizam reforço à mobilização e apontam alterações positivas no tremular de bandeiras de luta dos movimentos sociais e sindicais combativos. Foi construída uma vitoriosa unidade de ação no campo dos servidores públicos federais e de trabalhadores de outras esferas, na luta por direitos como salário digno e aposentadoria. Unidade de ação que interferirá no campo real da luta e indicará caminhos importantes e a serem trilhados.

Mas, a despeito de quaisquer questões pontuais, muitas são as tarefas que o momento político impõe à categoria docente. Nestes tempos de mundialização do capital, de rediscussão dos Estados nacionais, de crise de estratégias, temos que, a partir desse espaço de produção do conhecimento que é a universidade, radicalizar a discussão, propondo, em alto e bom som, que o conhecimento esteja a serviço de toda a humanidade e de seus propósitos emancipatórios. Para isso, seus rumos e sua socialização dizem respeito a toda a sociedade e, em especial, àqueles que produzem suas riquezas.