Título: Petistas culpam Berzoini por dificuldades nas alianças eleitorais
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 07/07/2008, Política, p. A6

As dificuldades do PT para definir uma diretriz única de alianças nas eleições municipais devem-se, segundo integrantes do partido, à falta de força política do atual diretório nacional, presidido pelo deputado Ricardo Berzoini (SP). Berzoini, apesar de escolhido legitimamente na última eleição interna da legenda, teria problemas, segundo petistas, de se impor às diversas correntes e não tem "musculatura política" suficiente para desafiar a influência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva dentro do PT. Outros defendem a tese de que Berzoini acabou atropelado por uma base aliada muito ampla e um novo momento vivido pelo PT. "Unificar discursos e linhas de atuação torna-se muito mais difícil quando estamos no poder", reforça o ministro da Justiça, Tarso Genro.

Berzoini defende-se, afirmando que quase tudo o que foi planejado pelo Diretório Nacional para as eleições desse ano foi obtido. "Controle absoluto sobre tudo é impossível, até porque não somos um partido verticalizado, centralizador, como outros aliados. Optamos por respeitar os diversos diretórios municipais em suas políticas de alianças", justifica Berzoini. "Não queríamos repetir 2004, quando houve imposições e até intervenção, como aconteceu em Mogi das Cruzes, por exemplo", afirma o presidente do PT.

O caso mais emblemático de queda-de-braço entre Lula e a direção do PT acabou sendo Belo Horizonte. Depois de dois meses de briga entre o prefeito de BH, Fernando Pimentel, e o Diretório Nacional do PT em relação à aliança com o PSDB de Aécio Neves, acabou sendo confirmada a chapa com Márcio Lacerda (PSB) para prefeito e o petista Roberto Carvalho como vice. O PSDB perdeu, pois apoiará a chapa apenas informalmente e o governador Aécio Neves não poderá aparecer nos programas de propaganda do candidato. Mas, o PT enfraqueceu seu principal líder, hoje, em Minas, o prefeito de Belo Horizonte. E a cúpula do partido levou uma descompostura pública do presidente. Lula disse que acha ridículo "aqueles que vêem nas eleições municipais uma antecipação da disputa de 2010", um argumento utilizado pelo próprio Berzoini para se opor a uma aliança formal com o PSDB.

Em São Paulo, a aliança do bloquinho com o PT, que permitiu a indicação de Aldo Rebelo (PCdoB) como vice de Marta Suplicy (PT) estava sendo negociada pela presidência das duas legendas, que não conseguiam chegar a um acordo. Foi necessária a interferência do presidente, em um jantar no Palácio da Alvorada, para que os partidos do bloquinho apoiassem Marta.

No Rio, Berzoini nada conseguiu, Lula tampouco. Berzoini avisou ao presidente do PCdoB, Renato Rabelo (SP), que não conseguiria fazer o petista Alessandro Molon desistir de sua candidatura para apoiar a comunista Jandira Feghali. Nem o apelo de Lula foi atendido. "Lula não teve como influir porque foi passado para trás pelo governador Sérgio Cabral Filho", explicou um petista. Cabral apoiara Molon mas acabou retirando o apoio, quando o PT recusou aliar-se ao PMDB em várias capitais, e lançou o secretário de esportes Eduardo Paes (PMDB-RJ) como seu candidato.

Um petista atuante, mas crítico do atual comando partidário, lembra que nem a aliança feita pelo campo majoritário com a chapa de Tarso Genro, que acabou alçando o deputado José Eduardo Cardozo (SP) ao posto de secretário-geral do PT, foi suficiente para aumentar o poder de Berzoini. "Ele não articula, não dirige, não comanda. Lembram da figura da rainha da Inglaterra? É algo semelhante", comparou o petista, lembrando que a bancada do partido na Câmara também se posiciona e negocia independente das orientações da direção-geral.

Um outro petista, que integra a Executiva do PT, afirmou que a fragilidade de Berzoini faz com que Lula aumente ainda mais seu poder sobre o partido. "Lula pessoa física é mais forte que o PT pessoa jurídica", resumiu o político. Ele até considera natural que isso aconteça diante da força de Lula após quase seis anos como presidente da República.

Mas, acha que em outros tempos isso não aconteceria. E não se remete apenas a José Dirceu, cuja falta ao PT está sendo lembrada todos os dias na bancada do partido. Cita que, no ano passado, o então presidente do PT, Marco Aurélio Garcia, desafiou Lula e foi ao presidente do PMDB, Michel Temer (SP), fechar o apoio do partido à candidatura do petista Arlindo Chinaglia (SP) a presidente da Câmara. "Lula não morre de amores por Temer e ainda estava conversando bem com Aldo Rebelo à época. Marco Aurélio achou importante para o governo o acordo com o PMDB e assumiu o risco de bancar a parceria".

O ministro da Justiça, Tarso Genro, não acha que Berzoini tenha culpa na atual conjuntura política vivida pelo partido, justamente por ser esse um momento diferente, de transição, para o PT e seus dirigentes, muitos dos quais substituem antigas lideranças partidárias. "Depois da fragmentação política decorrente do escândalo do mensalão, a única figura política que nos unifica é o presidente Lula", resumiu Genro.

A líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), é outra que minimiza a atuação de Berzoini. Para ela, é muito difícil coordenar alianças com uma base tão grande e heterogênea, "que vai do PP ao PCdoB". Além disso, as eleições municipais trazem suas peculiaridades e especificidades. "Em algumas cidades, é muito mais fácil dialogar com partidos que são seus adversários no plano federal do que subir no mesmo palanque com aqueles que votam conosco no Congresso Nacional".

Ideli contradiz o próprio Lula ao afirmar que as disputas de outubro antecipam a eleição de 2010. "Nenhum partido definiu os nomes para a sucessão de Lula. Logo, todos querem mostrar força para ocupar um espaço mais privilegiado".

Berzoini aparenta calma. E não bate de frente com Lula, alegando ser natural, "ainda mais no Brasil", que pessoas sejam mais fortes que partidos: "Lula tem aprovação de 70%, 80%. O partido mais bem avaliado, que é o PT, tem a preferência de 25% a 30% do eleitorado".