Título: Kadafi acusa Bin Laden
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Fonte: Correio Braziliense, 25/02/2011, Mundo, p. 20

Ditador líbio perde o controle sobre mais cidades e denuncia complô da rede terrorista Al-Qaeda para desestabilizar o país e estabelecer uma plataforma para ataques à Europa. Militares continuam a aderir aos rebeldes

O ditador Muamar Kadafi resolveu acusar seus opositores de estarem a serviço da Al-Qaeda e reforçou o poder das forças de segurança para tentar manter o controle da Líbia. A capital, Trípoli, está cercada por policiais, enquanto a revolta cresce em diversos pontos do país. Os rebeldes controlam grande parte da região leste, na fronteira com o Egito, e agora contam com a ajuda dos militares, que começam a aderir aos protestos contra o regime. Em uma mensagem de áudio, transmitida ontem, o líder afirmou que seus adversários ¿não têm reivindicações verdadeiras¿. A comunidade internacional continua a negociar possíveis sanções contra o país para pôr fim à repressão violenta contra os civis, que já deixou mais de mil mortos, segundo estimativas não oficiais.

Para Kadafi, os protestos são articulados pelo líder terrorista Osama bin Laden. ¿É óbvio agora que essa situação é promovida pela Al-Qaeda. Esses jovens armados, nossos filhos, estão sendo incitados por gente que é procurada pelos Estados Unidos e pelo Ocidente¿, declarou o ditador. Ele também afirmou que os rebeldes teriam sido drogados pela rede terrorista ¿ por isso teriam se erguido contra o governo. ¿Eles deram drogas a vocês. Eles lavaram o cérebro das crianças e pediram que se comportassem dessa maneira¿, acusou.

O coronel garantiu que seu poder tem uma base de sustentação ¿simplesmente moral¿, e chegou a comparar seu regime à monarquia constitucional britânica. ¿Aqui, a autoridade está nas suas mãos, nas mãos do povo. Podem mudar a autoridade sempre que quiserem. A escolha é sua. Vocês são os anciãos, os líderes das tribos, os professores. Não tenho o poder de legislar ou de fazer aplicar a lei. A rainha da Inglaterra não tem essa autoridade. Este é exatamente o meu caso¿, afirmou.

A revolta tomou o controle da costa leste do Mediterrâneo, na região de Cirenaica, na fronteira com o Egito. Manifestantes protestam ao lado de militares que aderiram à causa. Ontem, a cidade de Zuara foi abandonada pela polícia e pelos soldados. Cerca de 10 generais e coronéis desertaram do regime. Kadafi enviou mais tropas às ruas da capital, onde se concentram os seus aliados.

O ex-ministro da Justiça, Mustafá Abdel Jalil, que renunciou para protestar contra a repressão impiedosa, afirmou, em entrevista a um jornal sueco, que o ditador não deve abandonar o governo facilmente, e muito menos se render ou escapar do país.¿Os dias de Kadafi estão contados. Ele fará o mesmo que Hitler, que atentou contra a própria vida¿, previu o político. O presidente prometeu ¿lutar até a morte¿ contra a revolta, em um discurso na última terça-feira.

Sanções A comunidade internacional analisa medidas punitivas contra o regime líbio. O presidente Barack Obama telefonou para o colega francês, Nicolas Sarkozy, para conversar sobre a crise e analisar possíveis medidas para pressionar o regime de Kadafi. ¿Levando em conta a repressão brutal e sangrenta, além das declarações ameaçadoras do governo líbio, os dois presidentes reiteraram a exigência de um fim imediato do uso da força contra a população civil¿, afirmou um comunicado da Presidência francesa.

O Conselho de Segurança das Nações Unidas, presidido neste mês pelo Brasil, deve reunir-se novamente hoje para discutir a situação. ¿A violência contra civis e a repressão contra manifestantes têm que parar. Faremos consultas sobre os próximos passos¿, disse à imprensa o embaixador alemão na ONU, Peter Wittig, após uma reunião de consultas a portas fechadas. Na terça-feira, o organismo condenou o uso da força contra os manifestantes e exigiu que os culpados sejam responsabilizados.

Suíça congela bens do ditador O governo da Suíça anunciou ontem o congelamento dos bens do ditador líbio, Muamar Kadafi. A medida vale também para seus familiares e aliados e proíbe a venda e o usufruto desses bens, inclusive móveis. Segundo estimativas do Banco Central suíço, estão depositados no país cerca de S$ 600 milhões (R$ 1 bilhão) em bens líbios. Os ex-presidentes da Tunísia, Zine Al-Abidine Ben Ali, e do Egito, Hosni Mubarak, também tiveram os bens congelados pelo governo suíço. Mas, ao contrário de Kadafi, no caso de mbos a decisão foi anunciada após eles terem deixado o poder.