Título: Divergências sobre clima marcam G-8
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 07/07/2008, Internacional, p. A13

O grupo das oito nações mais ricas do planeta, o G-8, inicia hoje seu encontro anual de três dias com negociações especialmente difíceis sobre como reduzir as emissões de gases de efeito-estufa, o que exige ajustes nas indústrias.

O presidente dos EUA, George W. Bush, sinalizou ontem ao chegar ao Japão que está preparado para ser "construtivo", mas condicionou qualquer acordo sobre mudanças climáticas a uma participação da China e Índia.

Por sua vez, a China teria indicado aceitar compromissos de redução de emissões até 2050, desde que os EUA se comprometam em reduzir substancialmente suas emissões até 2020, segundo analistas que acompanham o encontro. No G-8 do ano passado, na Alemanha, os países concordaram em "considerar seriamente" planos para cortar pela metade as emissões de gases de efeito-estufa por volta de 2050.

As divergências parecem suficientemente fortes para frear um acordo substancial sobre clima. O jornal japonês Asahi Shimbun publicou que os países industrializados aceitariam estabelecer suas metas de médio prazo. Bush chegou a anunciar em abril que os EUA se comprometiam a não aumentar as emissões a partir de 2025. No entanto, o ministro de meio-ambiente do Japão, Ichiro Kamoshita, declarou na TV NHK que Tóquio não tinha como aceitar metas obrigatórias de médio prazo no G-8, alegando que isso seria contra os interesses do país.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve cobrar dos países ricos os compromissos que estes por sua vez cobram dos emergentes. Para o Brasil, os ricos deveriam se comprometer com metas de redução entre 60% e 80% até 2050.

Por outro lado, a pressão deve continuar sobre o G-8 para integrar plenamente o Brasil, China e Índia no clube. O presidente francês Nicolas Sarkozy considerou "não razoável" a ausência dos maiores emergentes da mesa de discussões dos principais temas globais.

O Japão, porém, como o país organizador do G-8 este ano, ajudou pouco numa integração maior do G-5 - Brasil, China, Índia, México e África do Sul. Os japoneses chegaram a convidar os cinco separadamente para diferentes discussões de temas da cúpula, para mostrar que não o considera um grupo.

Depois que o Brasil reclamou que não viria só para a "sobremesa" na quarta-feira, os japoneses ampliariam o debate, mas incluindo Austrália, Coréia do Sul e Indonésia. Tóquio tem pouco interesse em ampliar o clube dos ricos. O G-8 lançou um "diálogo permanente" em 2007 com o G-5, como reconhecimento de novas forças na economia mundial e responsabilidade na governança global.

Os dois grupos desde setembro discutem quatro temas (investimentos, propriedade intelectual, energia e desenvolvimento), utilizando um secretariado na Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Esta semana, o G-8 examinará o relatório do primeiro ano do "diálogo", que mostrou confronto especialmente sobre patentes. Somente no encontro de cúpula do ano que vem, na Itália, é que o G-8 examinará uma eventual entrada do G-5 ou diálogo ampliado a outros temas. Mas analistas consideram que o "diálogo" na OCDE é insuficiente, diante da realidade política e econômica. O México, que coordena o G-5, reclama que não está havendo diálogo "de iguais".