Título: Operadoras apostam em notebook 3G
Autor: Moreira, Talita
Fonte: Valor Econômico, 07/07/2008, Empresas, p. B3
Até agora, para conectar um notebook à internet sem fios ou cabos, havia basicamente duas saídas. Uma delas era estar ao alcance de uma rede WiFi. A outra era acoplar ao computador um modem externo de telefonia móvel.
Agora, porém, operadoras de celular e fabricantes de PCs começam a oferecer uma nova opção. Estão chegando ao mercado brasileiro os primeiros notebooks que já vêm com um chip de terceira geração (3G) embutido, o que permite ao usuário ficar o tempo todo conectado à web, geralmente em alta velocidade.
A lógica é idêntica à dos telefones móveis - a rigor, a tecnologia é a mesma: onde existe rede de celular, o aparelho capta o sinal da operadora. Como a infra-estrutura de telefonia móvel está presente em boa parte do território brasileiro (e estará em todos os municípios do país dentro de alguns anos), na prática isso significa estar o tempo todo on-line.
Os notebooks já saem de fábrica com o chip de alguma operadora embarcado. O chip acessa a rede dessa operadora e capta a melhor tecnologia disponível no local. Nas cidades onde houver infra-estrutura de terceira geração, ele permitirá ao internauta conectar-se em alta velocidade. Nas regiões em que a 3G ainda não foi instalada, o usuário acessará automaticamente a rede no padrão GSM e navegará com maior lentidão, como se estivesse em linha discada.
A TIM lança hoje, junto com a Hewlett-Packard (HP) e a Intel, um notebook preparado para a tecnologia 3G. A operadora foi a primeira a apostar no produto, em abril, ao lançar uma parceria com a própria HP, mas destinada exclusivamente ao mercado empresarial. A novidade, agora, é a chegada do pacote às mãos do consumidor comum.
O modelo que chega às lojas custa R$ 3.699. Ao adquirir o equipamento, o consumidor terá conexão ilimitada com velocidade até 1 megabit por segundo (Mbps) durante 90 dias, sem pagar. Depois desse período, o serviço poderá ser contratado por R$ 99,90 mensais.
"Temos a visão de que haverá cada vez mais produtos com chip de 3G embarcado", diz o diretor de planejamento estratégico e novos negócios da TIM, Renato Ciuchini.
O executivo aposta que, dentro de três anos, praticamente todos os notebooks sairão da linha de montagem capacitados a fazer a conexão com as rede 3G. Na avaliação dele, a tecnologia irá se disseminar da mesma forma que ocorreu com o WiFi. Hoje, a maioria esmagadora dos computadores portáteis consegue localizar e acessar essas redes.
Ciuchini também avalia que os notebooks ajudarão a popularizar os sistemas de terceira geração das operadoras. "O acesso à internet móvel é o grande atrativo da 3G", observa.
Desde o ano passado, as operadoras de telefonia celular têm investido na venda de modems externos para acesso à internet. Esses equipamentos tornaram-se um dos produtos mais bem-sucedidos para as companhias do setor. Os computadores com chip interno representam um passo adiante nessa estratégia. Exatamente por isso, todas as empresas têm projetos na área.
A Claro fechou acordo com a Microboard para colocar um notebook 3G no mercado até o início de agosto. A Brasil Telecom (BrT) também está na fase final do processo de escolha do fabricante com o qual estabelecerá uma parceria e deve anunciar, em breve, sua entrada no segmento.
Fiamma Zarife, diretora de serviços de valor agregado da Claro, acredita que a praticidade será o grande atrativo do produto. "O modem embarcado facilita a experiência do cliente. Quem precisa de mobilidade quer algo prático", avalia. Segundo ela, a operadora não terá exclusividade com a Microboard e está em negociações com outros fabricantes para ter mais um ou dois notebooks disponíveis até o fim do ano.
A Microboard investiu entre R$ 2 milhões e R$ 3 milhões no desenvolvimento do produto e na adequação de sua fábrica, em Itajubá (MG), para fazer os notebooks 3G. A fabricação começou há duas semanas.
Enrico Prado, diretor comercial de vendas corporativas da Microboard, avalia que, inicialmente, os consumidores escolherão os notebooks 3G com base na marca da operadora na qual mais confiam - e não no fabricante. "No começo vai ser assim, até que se torne um produto reconhecido pelo mercado", afirma.
Fiamma diz que a competição nas redes varejistas que vendem computadores ficará mais acirrada. "Provavelmente os fabricantes precisarão oferecer o mesmo modelo de computador para várias operadoras, como fazem os fabricantes de celular", afirma.
Para as empresas de telefonia móvel, cada notebook com chip embutido equivale à venda de mais uma linha de celular - daí o interesse no negócio. Junto com o computador, as operadoras vendem pacotes de serviços de dados, o que lhes garante um relacionamento mais duradouro com os clientes. "Esse tipo de produto aumenta a fidelidade dos assinantes e o tráfego de dados da operadora", diz Ciuchini, da TIM.
Para o consumidor, o pagamento pelo serviço será uma tarifa mensal para acesso à internet por meio da rede de telefonia móvel.
A estratégia é recente no mundo todo e atrai o interesse das grandes operadoras e das principais empresas de computadores. Um levantamento com 180 mil usuários de notebooks feito pela GSM Association (GSMA) - entidade que reúne empresas de telefonia móvel e fornecedores de equipamentos - mostra que 72% deles têm interesse num computador com chip de 3G embutido.
Em fevereiro, a GSMA anunciou a Dell e a Elitegroup Computer Systems (ECS) como as vencedoras de uma competição para desenvolver o notebook mais barato com modem 3G. Ambas apresentaram modelos com custo inferior a US$ 800. Na ocasião, o presidente da associação, Rob Conway, estimou em 70 milhões de unidades, ou US$ 50 bilhões anuais, o mercado potencial para computadores com acesso à banda larga móvel.
"O mercado só não decolou antes porque as redes de terceira geração não tinham escala", diz Prado, da Microboard. Já existem mais de 200 operadoras, no mundo, que oferecem serviços de terceira geração.