Título: Dispara o crédito para empresas
Autor: Travaglini, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 07/07/2008, Finanças, p. C1

Alheio à desaceleração dos empréstimos para pessoas físicas e à alta dos juros, o crédito para empresas disparou no início deste ano. O saldo de operações com recursos livres para as pessoas jurídicas avançou 43,2% em 12 meses. A taxa é superior ao crescimento dos meses anteriores, mostrando aceleração do processo.

O maior avanço tem se dado na linha de capital de giro. Nos últimos 12 meses, o saldo da modalidade subiu 77,6%, atingindo R$ 126,56 bilhões. A conta garantida (espécie de cheque especial das empresas) avançou 27,6% no período, de acordo com dados do Banco Central.

Segundo Ricardo Botelho, diretor do Unibanco, as necessidades de giro mudaram de patamar. Tanto o contas a receber quanto o contas a pagar das empresas são maiores. Como aumentaram as vendas, há a necessidade de um colchão de caixa mais robusto. "É natural que o banco supra isso. Mesmo com ritmo menor da demanda, essa necessidade se mantém".

Apesar dessas linhas serem destinadas às necessidades correntes das companhias, boa parte tem sido direcionada para investimentos. As modalidades específicas para ampliação da capacidade também têm avançado, como o leasing (86,9%) e os repasses do BNDES (27,3%).

"A demanda por crédito continua aquecida, tanto para o curto quanto para o longo prazo. Há um crescimento especialmente importante de produtos para investimentos", afirma Botelho. "É saudável apostar nessa parceria com as empresas. Até por isso continuamos com a postura de manutenção da oferta".

Henrique Vianna, diretor do HSBC afirma que o segmento de médias e grandes empresas é o que mais cresce, carente dos recursos mais escassos no mercado de capitais. "O consumo das famílias tem crescido de forma ainda mais forte, impulsionado por crédito e importação. Isso está chegando de forma bastante forte nas empresas que estão atingindo sua capacidade máxima de produção, mas vem investindo para atender a demanda".

Entre os setores que mais demandam crédito para investimentos, segundo Antonio Neto, gerente da área comercial do Banco Prosper, estão o agronegócio, o imobiliário e as médias indústrias de autopeças e embalagens. "Eles estão comprando ativos fixos para aumentar a capacidade".

Mas o cenário pode ter leve mudança a partir do segundo semestre. O crescimento deve se manter, mas os bancos esperam uma desaceleração da demanda das companhias. Isso já é visto no crédito ao consumo, em decorrência da política restritiva do Banco Central e do comprometimento da renda da população com o próprio crédito e com o aumento da inflação.

A elevação do custo do dinheiro deve provocar um arrefecimento da economia como um todo, também com recuo no nível de emprego e, por conseqüência, da renda, na avaliação de Ademir Cossiello, diretor-executivo do Bradesco. "Isso vai afetar a demanda por credito".

Apesar da expectativa de redução, por enquanto as concessões estão se acelerando. Uma das explicações é a defasagem entre a elevação dos juros e o efeito na demanda, afirma Cossiello. Além disso, como boa parte dos empréstimos tem sido destinado para investimentos em expansão da capacidade produtiva, mesmo com elevação dos juros, a demanda não se esfria de uma hora para outra. "Parar projetos já iniciados representa perda".

Morris Dayan, diretor-executivo e de relações com investidores do Banco Daycoval, espera um desaquecimento por conta da inflação. "Quando se olha a economia real, há forte crescimento e a demanda por crédito é bastante saudável, mas quando se olha o mercado financeiro, se tem certeza que o crescimento vai esfriar um pouco".

Altair Assumpção, diretor do Banco Real, pondera, no entanto, que historicamente o segundo semestre é sempre mais forte do que o primeiro em termos de concessão de crédito. "A leitura é que deverá haver um desaquecimento, as análises apontam desaceleração, mas a pratica mostra que o segundo semestre é sempre mais forte".

Maércio Soncini, vice-presidente de atacado do Banco Fibra lembra que julho é tradicionalmente mais fraco, mas que os últimos seis meses são mais aquecido. "A relação é de cerca de 40% de concessão no primeiro semestre e 60% no segundo".

Já no mercado das pequenas e médias empresas, com faturamento anual inferior a R$ 40 milhões, a demanda não deve apresentar recuo neste ano, segundo avaliação de Carlos Eduardo Maccariello, superintendente de estratégia e vendas de ativos para pessoas jurídicas do Itaú.

Este era um nicho pouco atendido pelos grandes bancos, mas que recebeu a atenção das instituições nos últimos anos. Há, portanto, grande espaço para avanços. "As empresas estão mais confortáveis para tomar crédito e não esperamos desaquecimento neste ano", afirma Daniel Zabloski, diretor de pequena e médias do HSBC.