Título: Produtividade tem alta de 4,27%
Autor: Lamucci , Sergio
Fonte: Valor Econômico, 09/07/2008, Brasil, p. A3
O ritmo de crescimento da produtividade do trabalho na indústria de transformação dá sinais de acomodação. Nos 12 meses até maio, aumentou 4,27%, um pouco abaixo dos 4,52% registrados até abril, na mesma base de comparação. Em 2007, a alta foi de 4,2%. Se for levado em conta apenas o período de janeiro a maio deste ano, os ganhos de produtividade são mais modestos: 3,49% em relação ao mesmo período de 2007.
Depois do crescimento mais forte no ano passado, alguns analistas consideram natural que a velocidade de expansão se acomode nos atuais níveis ou apresente alguma desaceleração. O fato de a indústria operar em níveis elevados de capacidade instalada também dificulta a obtenção de ganhos de produtividade mais altos.
O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, observa que o desempenho mais fraco da indústria em maio - alta de 2,4% sobre o mesmo mês do ano passado- ajuda a explicar a perda de força da produtividade. Ele lembra que o mês de maio teve dois dias úteis a menos que maio de 2007, o que teve influência no crescimento menor da produção industrial.
"Os números do primeiro semestre têm que ser olhados com cautela por conta da variação de dias úteis. De qualquer modo, acredito que, por conta da tendência percebida de a produção crescer menos, a produtividade deve começar a desacelerar também", afirma Vale, para quem haverá uma perda de fôlego mais forte no ano que vem. "Mas, por enquanto, uma acomodação parece mais plausível", completa.
Uma boa notícia é que eles têm sido obtidos com aumento simultâneo de produção e do número de horas pagas aos trabalhadores. "É o aumento virtuoso da produtividade", diz o professor Fernando Sarti, do Instituto de Economia da Unicamp. Para ele, a acomodação ou leve desaceleração sugerida pelos números de maio não são preocupantes. "Se ela tivesse sido obtida com número de horas pagas constante e alta da produção, eu ficaria preocupado, mas não é isso o que está ocorrendo."
A produção da indústria de transformação cresceu 6,72% nos 12 meses até maio, enquanto o número de horas pagas aos trabalhadores teve alta de 2,35%. De janeiro a maio deste ano, a produção aumentou 6,2% e as horas pagas, 2,61%, nos dois casos em comparação com o mesmo período de 2007.
A economista Thaís Marzola Zara, da Rosenberg & Associados, considera natural que haja alguma desaceleração dos ganhos de produtividade, principalmente pelo fato de que a indústria trabalha com elevados níveis de capacidade instalada. "Isso limita os ganhos", diz Thaís, lembrando que, desse modo, a produtividade não vai contribuir tanto quanto no ano passado para aliviar as pressões inflacionárias.
Em 2005, a produtividade na indústria de transformação cresceu 2,1%, ritmo que aumentou para 2,5% em 2006 e 4,2% em 2007. Parte dessa alta ocorreu por ocupação de capacidade ociosa, acreditam Sarti e Thaís. Além disso, os aumentos também refletem ganhos de eficiência obtidos pela maturação dos investimentos feitos nos últimos anos, diz Sarti.
No acumulado em 12 meses, a alta da produtividade na indústria de transformação ainda supera a variação dos salários reais (descontada a inflação) por trabalhador. O custo do trabalho, nesse período, caiu 1,17%, o que indicaria que os reajustes salariais não tendem a pressionar a inflação para cima. Quando o período analisado é o de janeiro a maio, o quadro é um pouco diferente: a variação dos salários reais por trabalhador cresce 3,79%, mais do que o aumento de 3,49% registrado pela produtividade. Com isso, o custo do trabalho subiu 0,28% nos primeiros cinco meses do ano.
Num momento em que as empresas enfrentam várias pressões de custos, em grande parte por causa da alta dos preços de commodities, a notícia não é das mais agradáveis. "Ao mesmo tempo em que a produtividade tende a desacelerar, os custos gerais na indústria têm subido muito", diz Vale. "Basta pensar numa empresa do setor químico que está sofrendo com os aumentos dos preços de petroquímicos em geral. Se juntar isso às demandas salariais que devem aparecer ao longo do semestre, a indústria vai ficar pressionada." O ponto positivo é que, pelo menos por enquanto, o aumento do custo de trabalho não é dos mais elevados.