Título: Paulinho defende-se no Conselho
Autor: Jayme , Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 09/07/2008, Política, p. A7
O deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), presidente da Força Sindical, começou ontem a se defender diante do Conselho de Ética da Câmara das acusações de participação em uma quadrilha que desviava recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Ele negou qualquer envolvimento com o grupo, mas alguns integrantes do conselho não ficaram satisfeitos com as explicações apresentadas. O depoimento foi interrompido na tarde de ontem e será retomado hoje.
A principal lacuna observada por alguns deputados nas explicações de Paulinho se refere a um apartamento que era de João Pedro de Moura, ligado ao deputado e acusado pela Polícia Federal de ser um dos principais nomes da organização criminosa. Entre 2002 e 2007, Moura foi o homem da Força Sindical no Conselho de Administração do BNDES.
Ele doou o apartamento à organização não-governamental (ONG) Meu Guri, presidida pela mulher de Paulinho, Elza Pereira. Quatro anos depois, em 2008, Moura retomou o apartamento, pagando R$ 37,5 mil à ONG.
A operação causou estranheza em diversos deputados. A PF desconfia que a transferência feita por Moura para a conta da ONG tem origem nos recursos desviados do BNDES. O valor de mercado do apartamento é de R$ 80 mil, mas Moura pagou apenas R$ 37,5. Paulinho justificou a quantia menor pelo fato de a ONG não ter tido que quitar nenhuma conta referente ao imóvel. "Havia muitas dívidas. O apartamento ficou quatro anos parado", disse Paulinho.
"Está muito mal explicado. Como alguém faz uma doação e, em seguida, compra de volta o apartamento cheio de dívidas? É muita generosidade", disse a líder do P-SOL, deputado Luciana Genro (RS). "Essa explicação do apartamento é muito vulnerável. É difícil entender como uma pessoa doa um apartamento e depois o compra de volta. E por um valor menor que o de mercado. Ou seja, ainda tem o fato de a ONG ter deixado de ganhar dinheiro", disse o relator do caso do deputado, Paulo Piau (PMDB-MG). Paulinho argumentou que a Meu Guri não encontrou compradores para o imóvel.
Sobre as demais atuações de Moura junto ao BNDES, Paulinho negou que ele tenha auxiliado na liberação de recursos do banco a aliados da Força Sindical. "Quem é do conselho não libera recursos. É impossível haver desvio de recursos no BNDES", disse o deputado. Sobre as gravações nas quais seu nome era citado por integrantes da quadrilha, Paulinho explicou que o próprio Moura "já confessou que usava meu nome para auferir mais nas negociações". Ele lembrou que não é nenhum ligação com a voz dele pedindo propina a ninguém.
Outro ponto bastante explorado no depoimento de Paulinho foi a relação dele com o ex-coronel da Polícia Militar de São Paulo Wilson de Barros Consani Júnior. Segundo a Polícia Federal, Consani teria avisado Paulinho e os demais investigados pela Operação Santa Tereza sobre as prisões que seriam realizadas no dia 25 de abril.
Paulinho admitiu que conhece Consani. Disse que o ex-coronel tem uma empresa de segurança particular que trabalha para a Força Sindical nos eventos de 1º de Maio. Um dia, disse Paulinho, ele recebeu um telefonema de sua filha que dizia estar sendo perseguida por um carro. "Eu liguei para o coronel, até porque ele era a única pessoa que eu conhecia e que fazia esse serviço, para pedir que descobrisse o que estava acontecendo", explicou Paulinho. Consani, então, descobriu que havia uma investigação da Polícia Civil de São Paulo sobre a família do deputado. O parlamentar, então, encaminhou pedido de explicações ao Ministério Público de São Paulo em outubro de 2007.
Na versão de Paulinho e de Consani, quando o ex-coronel alertou sobre "prisões" que seriam feitas no âmbito da "operação", ele se referia às investigações da Polícia Civil e não à da PF. Depois da prisão de Consani pela Operação Santa Tereza, o deputado diz que não falou mais com ele.
Por fim, Paulinho negou qualquer relação entre a Meu Guri e as ONGs DataBrasil e Luta e Solidariedade, supostamente envolvidas no esquema de desvio de recursos.