Título: Combustível caro reduz demanda na Ásia
Autor: Barta, Patrick
Fonte: Valor Econômico, 09/07/2008, Internacional, p. A9

Por causa da alta do petróleo, consumidores de alguns países da Ásia começaram a conter seu consumo de combustível, dando os primeiros sinais de uma mudança depois de anos de rápido crescimento na demanda.

A Ásia é a maior responsável pela nova demanda de petróleo. Só a China responde por metade da alta mundial este ano. Subsídios governamentais intensificaram essa demanda ao manter os preços na região artificialmente baixos.

Agora há mudanças em todos os lugares. Depois que a Malásia aumentou o preço da gasolina em 41%, no começo de junho, Steven K.C. Poh, consultor de marketing que vive perto de Kuala Lumpur, conta que ele e sua mulher venderam um dos seus dois carros grandes e compraram um veículo menor, que consume menos combustível. Agora, eles estão economizando mais de 100 ringgits (cerca de US$ 31) por mês.

Affandi Samson, supervisor de um posto da Shell numa estrada perto da capital malaia, conta que seus negócios diminuíram 30% desde que a alta do petróleo levou os motoristas a cortar o consumo. Agora ele precisa de pelo menos um carregamento a menos de gasolina por semana. "Estamos abertos 24 horas e localizados estrategicamente", diz. "Os negócios deveriam estar bem, mas não estão."

Muitos analistas já reduziram suas estimativas para a demanda asiática de petróleo este ano, em parte por causa de menos subsídios governamentais. A consultoria Facts Global Energy Group, de Cingapura, informa agora esperar que a demanda asiática de petróleo suba 2,7%, contra estimativa anterior de 3,3%. Apesar de mais lento, ressalta o grupo, o consumo asiático ainda tem um forte crescimento. A previsão, ainda segundo o grupo, é que a taxa de crescimento continue a diminuir na China, Índia e em outros países asiáticos nos próximos anos, à medida que a economia deles amadureça e desenvolva mais a indústria de serviços, que usa menos petróleo do que a de manufatura.

Na Tailândia, onde há algum tempo as autoridades cortaram os subsídios para deixar o preço do combustível refletir as flutuações internacionais, está crescendo a venda de bicicletas. O tráfego no sistema de metrô cresceu de 10% a 15% no mês passado. Muitos agricultores guardaram seus tratores e os substituíram por animais.

"Tento não usar carro quando não é necessário", diz o policial Thanas Thammakulvich, de 46 anos. Alguns dias atrás, por exemplo, para ir a uma conferência na cidade, ele aproveitou o programa de estacionamento grátis para quem usar um trem elevado de Bancoc. "Admito que dirigir um carro é mais conveniente, mas precisamos nos preocupar mais com o aumento do petróleo."

Na Indonésia, o produtor de TV Khrisman Surya diz que deixou o carro na garagem e está usando uma moto diariamente para ir ao trabalho. Com isso, economiza em torno de 1 milhão de rupias (cerca de US$ 110) por mês, diz. Agora ele escolhe "a ocasião com mais cuidado" quando se trata de usar carro.

Se medidas como essas vão se somar a uma moderação mais permanente e longa da demanda asiática de petróleo é questão em aberto. Provavelmente serão necessários muitos meses para se ter uma visão completa do impacto causado na Ásia pelo aumento do preço não subsidiado do petróleo. Dados sobre a recente tendência da demanda não estarão disponíveis pelo menos antes de dois meses.

Alguns consumidores asiáticos diminuíram o consumo de petróleo temporariamente, com o aumento do produto registrado em 2004 e 2005, mas reverteram esse comportamento quando os preços se estabilizaram e surgiram outros programas governamentais de assistência. Em alguns lugares, o corte no consumo foi compensado por fontes mais novas de demanda, já que a renda maior levou as pessoas a comprar seu primeiro carro e outros equipamentos que consomem derivados de petróleo.

E ainda é muito cedo para dizer se o preço alto está reduzindo significativamente o consumo na Índia e na China, os dois grandes responsáveis pela nova demanda na Ásia. Na Índia, o governo elevou o preço do combustível em só 10% no começo de junho. "Isso não basta", diz Dharmakirti Joshi, economista da agência de classificação de crédito Crisil, de Mumbai.

Ainda assim, o aumento na Índia provocou protestos maciços, com greve de quase 4 milhões de caminhoneiros. Diz-se que um número maior de motoristas está convertendo os carros para usar gás em vez de gasolina ou diesel, que são mais caros. Por isso, motoristas de riquixás e ônibus - veículos que já são movidos a gás - enfrentam filas mais longas nos postos de abastecimento.

Na China, onde o preço da gasolina é controlado pelo governo, o produto teve aumento de 17% em junho. Vários analistas acreditam num aumento da demanda a curto prazo porque, antes disso, as refinarias chinesas estavam reduzindo o suprimento para não vender gasolina a preço artificialmente baixo. Agora que o preço no varejo subiu, acredita-se que as refinarias devem aumentar a oferta para atender à demanda reprimida, permitindo que as pessoas comprem mais combustível, antes de moderar a demanda mais tarde.

Há muito tempo que os economistas pressionam os líderes asiáticos a reduzir seus subsídios, pois acreditam que a Ásia precisa resistir ao mesmo tipo de choque de preço que atingiu os Estados Unidos e outros países nos anos 70, causando mudanças no comportamento do consumidor que, no fim, os transformou em consumidores de petróleo mais eficientes.

Quando o preço do petróleo explodiu pela primeira vez, alguns anos atrás, o crescimento econômico da Ásia estava tomando impulso, fortalecendo a renda e levando muita gente a ignorar os custos mais altos do combustível. Este ano, o crescimento está desacelerando, e a inflação dos alimentos e outras necessidades torna mais difícil desprezar a alta dos combustíveis.

(Colaboraram Josephine Cuneta, de Manila, Celine Fernandez, de Kuala Lumpur, Wilawan Watcharasakwet, de Bangcoc, Yayu Yuniar, de Jacarta e Krishna Pokharel, de Nova Déli)