Título: G-5 rejeita culpa pela alta de preço de alimentos
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Fonte: Valor Econômico, 09/07/2008, Internacional, p. A10

O clube dos ricos: líderes do G-8 caminham por jardim após reuniões de trabalho em Toyako, no norte do Japão

O G-5, grupo dos cinco grandes emergentes - Brasil, China, Índia, África do Sul e México -, rejeitou ontem responsabilidade pela crise provocada pela alta dos preços dos alimentos e cobrou das nações industrializadas combate à especulação financeira, que tem impacto no custo das commodities.

O presidente da China, Hu Jintao, qualificou de "atitude não responsável" a acusação de que o desenvolvimento dos emergentes é que estaria elevando os preços dos alimentos. Pequim continua sendo visada por sua voracidade no consumo de commodities.

Os emergentes decidiram que, na discussão com os líderes do G-8 (grupo de países ricos mais a Rússia), hoje de manhã, vão se concentrar no impacto da inflação, com os preços altos dos alimentos e do petróleo, e menos nos compromissos que poderiam assumir no combate ao aquecimento global.

A posição foi definida após reação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, a uma discussão inicialmente muito centrada na questão climática, segundo relato do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. "Evitar o aquecimento global é objetivo de longo prazo, mas há um problema de curto prazo grave que é a inflação, a crise alimentar, a alta do petróleo", justificou Amorim.

Para discutir sobre crise de alimentos, os líderes do G-8 e do G-5 vão se reunir primeiro no café-da-manhã e depois no almoço. O G-5 deve conclamar os ricos a cooperar no diagnóstico e buscar soluções para a crise alimentar, numa indicação de que ninguém tem certeza do que está acontecendo.

AP O clube dos emergentes: o presidente Lula com os demais líderes dos países do G-5 em Sapporo, no norte do Japão

Várias propostas circularam no G-5. O Brasil sugere que o Banco Mundial dê crédito mais barato para países pobres comprarem fertilizantes para elevar a produção agrícola. O México quer a criação de um Fundo Verde. A China fala de mecanismo de financiamento para novas tecnologias, além de cooperação em reserva de grãos.

Para o Brasil, a solução passa por uma reforma internacional, para evitar que crises originadas nos países desenvolvidos, até por supervisão inadequada de política macroeconômica e mecanismos financeiros, acabem afetando os países em desenvolvimento.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, apresentará idéias contra a especulação financeira na próxima reunião do Fundo Monetário Internacional (FMI). Elas serão recebidas com ceticismo, pois se sabe que a primeira-ministra alemã, Angela Merkel, queria, na cúpula do G-8 no ano passado, impor um código de conduta para os fundos hedge, e não conseguiu isso por causa da oposição dos EUA.

Enquanto os emergentes se reuniam em Sapporo, capital de Hokkaido, a mais de uma centena de quilômetros o G-8 já tinha divulgado declaração sobre ambiente e mudanças climáticas, no qual acenou com a mesma promessa do ano passado, de cortar em 50% suas emissões de gases-estufa até 2050, sem porém assumir compromisso explicito sobre a meta.

O G-5 julgou insuficiente o texto dos ricos e insistiu ser essencial que aceitem reduzir suas emissões em pelo menos 25 a 40% até 2020, e entre 80 e 95% até 2050. Reagindo a pressões para assumir compromissos fortes contra o aquecimento, o grupo enfatizou que "não se deve jogar a responsabilidade para os países em desenvolvimento. É uma clara responsabilidade dos países desenvolvidos".

O Brasil se opõe ainda à proposta do Japão de abordagem setorial no combate ao aquecimento, que atingiria em primeiro lugar indústrias como a siderúrgica. O governo brasileiro rejeita singularizar o problema e dizer que o setor siderúrgico não pode produzir mais.