Título: VarigLog perde franqueados em meio a disputa de sócios
Autor: Campassi , Roberta
Fonte: Valor Econômico, 09/07/2008, Empresas, p. B4
O conflito societário da VarigLog prejudicou um dos maiores ativos da companhia aérea especializada no transporte de carga: a sua rede de franquias. Algumas lojas registraram queda superior a 30% nas vendas e a empresa, que contava com cerca de 300 franqueados, perdeu pelo menos 50 deles nos últimos meses.
"Em relação a 2007, nossas vendas caíram de 30% a 40%. De todas as crises na aviação, essa foi a que mais nos afetou", afirma Flavio Penna, dono de uma franquia da VarigLog no bairro do Butantã, em São Paulo. "Acho que foi a publicidade negativa em torno da empresa que afastou os clientes."
Desde julho do ano passado, o fundo americano Matlin Patterson e os brasileiros Marco Antonio Audi, Marcos Haftel e Eduardo Gallo travam uma disputa judicial. Em abril, uma decisão judicial afastou os três brasileiros da sociedade. O fundo apresentou nesta semana uma nova composição acionária à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para se adequar ao Código Brasileiro de Aeronáutica. Como investidor estrangeiro, o Matlin Patterson não pode ter mais do que 20% do capital votante de uma companhia aérea. A Anac ainda não se pronunciou sobre o fato.
"O movimento caiu significativamente nas lojas. Mas acreditamos que o pior passou", afirma Ricardo Limeris, sócio de quatro franquias da VarigLog. Segundo ele, o pior mês foi fevereiro deste ano, quando a companhia aérea estava operando com apenas um avião. Na época, os sócios brasileiros estavam à frente da administração e diversas aeronaves foram arrestadas por falta de pagamento ou estavam paradas com problemas de manutenção. Sem a possibilidade de embarcar as cargas dos clientes na VarigLog, muitos franqueados contrataram companhias aéreas concorrentes, como TAM, Gol e OceanAir.
A queda nas vendas e as incertezas em relação ao futuro da VarigLog levaram diversos donos de franquias a migrar para outras empresas. A JadLog foi citada como uma das que mais avançaram sobre o espaço da VarigLog. "Nos últimos meses, conseguimos 56 franqueados que eram da VarigLog e temos outras 25 negociações em andamento", afirma Ronan Hudson, diretor da JadLog. A empresa foi criada em 2005, ano em que a VaspEx, unidade cargueira da Vasp, deixou de operar, junto com a empresa-mãe. Hoje, possui uma rede de 300 franquias.
Segundo Hudson, a JadLog opera 25 aviões próprios Grand Caravan, da Cessna, todos de pequeno porte com capacidade para 1,5 tonelada. Mas a companhia utiliza principalmente os porões de empresas como TAM e Gol. "Esperamos faturar R$ 70 milhões este ano, três vezes o que conseguimos no ano passado", diz Hudson.
Entre alguns donos de franquias ouvidos pelo Valor, há expectativa de que a Gol amplie o número de franqueados em sua divisão de cargas, a Gollog. Hoje são 50 concentrados apenas em aeroportos. A empresa não deu entrevista ao Valor.
Cinco meses após a crise mais aguda, as operações da VarigLog estão regulares e em crescimento, diz José Roberto Pereira, presidente do conselho de franqueados da companhia e dono de uma loja. O processo de melhora, segundo ele, começou em abril, depois que o fundo Matlin Patterson assumiu a gestão da companhia. A frota da companhia em operação é de atualmente sete aeronaves - cinco Boeings 757 e dois Boeings 727. Há, ainda, um avião DC-10, que está em manutenção mas poderá ser devolvido.
"Desde fevereiro, houve um aumento progressivo nos volumes embarcados pelas franquias", diz Pereira. "Em nenhum momento, paramos de trabalhar e temos confiança de que a VarigLog vai se recuperar." O empresário calcula que o faturamento mensal da companhia aérea seja de R$ 50 milhões. Marco Audi, sócio afastado, disse que a receita da companhia havia caído de R$ 110 milhões para menos de R$ 20 milhões, durante depoimento na Comissão de Infra-Estrutura do Senado, na semana passada. As franquias da VarigLog são responsáveis por agenciar todo o transporte de cargas fracionadas - menos de cem quilos - e expressas. Esse segmento representa cerca de 40% da receita da companhia. O restante é proveniente do segmento de cargas industriais, maiores e agenciadas diretamente pela VarigLog. "Mas as cargas expressas custam mais e por isso são mais lucrativas", diz Pereira.