Título: AES quer ficar com o controle da Brasiliana
Autor: Capela , Maurício
Fonte: Valor Econômico, 09/07/2008, Empresas, p. B8

A americana AES garante que está pronta para exercer seu direito de preferência na holding Brasiliana, onde detém 50,01%. Segundo a multinacional, o objetivo é arrematar os 49,99% que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tem na holding elétrica. A operação vai envolver um desembolso expressivo do grupo americano.

As últimas avaliações mostraram que se Brasiliana fosse comprada por um terceiro grupo, o valor do negócio poderia alcançar US$ 6 bilhões, incluindo o pagamento aos minoritários das empresas controladas. A Brasiliana é dona da maior distribuidora de energia da América Latina, a Eletropaulo, além da geradora Tietê e de outros ativos. Mas caso fique nas mãos do grupo americano, esse valor cairia quase à metade. Ontem, na Bovespa, Eletropaulo e Tietê, valiam, juntas, R$ 12,5 bilhões.

O BNDES anunciou o desejo em negociar sua parcela em abril de 2007 e planejava um leilão para dezembro. Mas acabou transferindo o pregão para janeiro de 2008, que depois foi remarcado para o segundo semestre. Contudo, o Valor apurou que a saída do banco da holding também não deverá acontecer neste ano. Isso porque as avaliações feitas durante 2007 precisariam ser reformuladas, já que as condições atuais do mercado de capitais são bem diferentes daquela época. E muito provavelmente não haveria tempo hábil para a finalização desses estudos.

"A AES quer exercer o direito de preferência na Brasiliana", afirma Britaldo Pedrosa Soares, diretor-presidente da holding. Já o BNDES informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não vai comentar o assunto e tampouco se o processo de venda ficará mesmo para 2009.

Além da operação de saída da Brasiliana, o BNDES também tem um empréstimo estimado em US$ 1 bilhão a receber da americana AES, referente a Southern Electric Brasil (SEB). A SEB é um consórcio controlado pelo grupo americano, que arrematou 33% do capital da estatal mineira Cemig. O débito, inclusive, foi alvo de tratativas entre o banco e a AES, mas o acordo foi suspenso pela Justiça brasileira.

Segundo a AES, seus planos são de reforçar suas apostas no Brasil, onde também opera uma distribuidora no Sul, além de uma térmica (Uruguaina). Além da Brasiliana, estuda aplicar US$ 180 milhões em um parque eólico no Brasil e admite até dobrar esse valor nos próximos anos. Segundo documentos enviados SEC, órgão regulador do mercado de capitais dos EUA em maio, o grupo poderia investir até US$ 360 milhões para gerar esse tipo de energia no país.

Os recursos de US$ 180 milhões da multinacional deverão seguir direto para o Estado do Ceará, onde a AES estuda com parceiros a construção de um parque eólico. E os seis módulos desse parque teriam capacidade conjunta de 220 megawatts (MW).

No Brasil, a AES não comenta o assunto. Mas o Valor apurou que a empresa virou sócia-majoritária desse parque eólico no Ceará, que tinha como controlador no projeto original a francesa Siif. O processo, inclusive, chegou a ser namorado pela espanhola Iberdrola e a italiana Enel. O grupo espanhol é o maior gerador de energia a partir da força dos ventos e tem sob sua responsabilidade 6,9 mil MW.

No Brasil, a geração de energia eólica ainda é pequena, algo como 247 MW, mas seu potencial é enorme. Segundo números do Ministério de Minas e Energia, o país tem um potencial de 143,4 GW, o que equivaleria a cerca de dez usinas hidrelétricas de Itaipu. Para alguns analistas, o baixo aproveitamento do potencial decorre da falta de incentivos, como a realização de um leilão específico. Algo que o governo federal parece reconhecer, já que vai realizar um pregão só para esse tipo de energia em 2009.