Título: Portfólios de ações captam mesmo com perdas no mês
Autor: Pavini , Angelo
Fonte: Valor Econômico, 09/07/2008, EU & Investimentos, p. D2

Apesar da forte queda do Índice Bovespa neste início de mês, de 8,68% somente até dia 4, os fundos de ações continuaram atraindo recursos. De acordo com dados do relatório semanal do site financeiro Fortuna, a categoria apresenta ingressos de R$ 341 milhões em julho, apesar do prejuízo médio de 7,05% nos fundos de ações no período. Na semana - que inclui 30 de junho -, a captação foi de R$ 406 milhões, para uma perda média de 5,89%. No ano, o saldo acumulado é positivo em R$ 5,207 bilhões mesmo com o prejuízo médio dos fundos, de 6,37%.

Analistas vêem nesse comportamento dos investidores um reflexo do desempenho do mercado nos últimos cinco anos. Até agora, quem apostou na bolsa na baixa vinha obtendo ganhos. Mas, normalmente, a rentabilidade passada tem um efeito forte sobre os investidores, especialmente no varejo, e com um certo atraso.

Um sinal de que a resistência dos investidores em permanecer em ações já começa a dar sinais de enfraquecimento aparece quando se separa da média geral os fundos de varejo. Segundo Marcelo D'Agosto, do Fortuna, as carteiras voltadas para o investidor de menor porte começam a apresentar saídas. "Em sete dias, o resgate líquido já chega a R$ 32 milhões nessas carteiras, incluindo as de Petrobras e Vale", diz. No ano, esses fundos de ações de varejo ainda apresentam captação, de R$ 1,161 bilhão.

Os fundos exclusivos de ações da Petrobras continuam liderando as captações, afirma D'Agosto. No ano, as carteiras da estatal têm saldo de R$ 2,312 bilhões. Uma surpresa são os fundos setoriais, que acumulam entradas líquidas de R$ 1,341 bilhão no ano, com destaque para o fundo de siderurgia da BB DTVM , que sozinho captou R$ 276 milhões. Os fundos da Vale perderam um pouco o fôlego, com R$ 646 milhões, o que coincide com o recuo do papel por conta do anúncio de oferta pública de ações da empresa.

No mês, até o dia 4, chama a atenção a captação de R$ 620 milhões nos fundos DI, carteiras compostas principalmente por papéis pós-fixados (que seguem a trajetória dos juros). No ano, o ingresso de recursos na categoria soma R$ 6,207 bilhões. Esses fundos são considerados um porto seguro para o investidor em momentos de turbulência como o atual. A tendência de subida dos juros também é um incentivo, uma vez que o retorno dos DIs acompanha as taxas. O mesmo não ocorre com os fundos de renda fixa, que possuem uma parcela de papéis prefixados, o que aumenta o risco num momento de alta dos juros. As carteiras de renda fixa continuaram perdendo patrimônio, R$ 1,203 bilhão na semana, elevando as saídas do ano para R$ 14,201 bilhões.

Os multimercados também estão com resgates, mantendo a tendência iniciada este ano por conta dos maus resultados da maioria dos gestores. Em termos de rentabilidade, os multimercados perderam, na média, 0,46% na semana e 0,49% no mês, um sinal da forte correlação dessas carteiras com o Índice Bovespa. No ano, o rendimento médio dos multimercados está em 3,79%, para um CDI de 5,58%. No mês, a categoria perde R$ 621 milhões, elevando os resgates líquidos no ano para R$ 19,920 bilhões.

No total, o setor de fundos registra no ano captação de R$ 23,724 bilhões. Esse número é, entretanto, puxado principalmente pela categoria de fundos chamada de "poder público", que compreende as carteiras voltadas para estados e municípios, e que apresentam ingressos de R$ 24,816 bilhões. Chama a atenção também a captação na classe "outros", em que estão os Fundos de Investimento em Diretos Creditórios (FIDCs), e que apresentam entradas de R$ 18,475 bilhões até o dia 4.

Sem essas duas categorias, os fundos em geral perdem R$ 15 bilhões no ano, o que pode ser explicado pela volatilidade dos mercados, que aumentou o risco, reduziu a rentabilidade e afastou os investidores dos multimercados e dos fundos renda fixa. Há também a concorrência de outros produtos, como os CDBs, que atraíram principalmente investidores de private bank de grandes instituições de varejo, afirma D'Agosto.