Título: G-5 quer que ricos fixem antes seus cortes de emissão
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Fonte: Valor Econômico, 08/07/2008, Internacional, p. A9

O G-5 (Brasil, China, Índia, África do Sul e México) pressiona para que os países do G-8, entre os maiores poluidores mundiais, se comprometam a metas obrigatórias de redução de emissões de gases estufa já no médio prazo, por volta de 2020. Só com isso os emergentes aceitariam planos de ação nacionais no longo prazo.

O grupo dos emergentes se reunirá hoje em Sapporo, a duas horas do banquete do G-8. Somente amanhã é que os emergentes sentam à mesa com os industrializados, quando estes já terão divulgado suas conclusões sobre o estado do planeta. Um esboço do comunicado só do G-8 empurra qualquer acordo de metas especificas de corte de emissões para a conferência do clima da ONU no ano que vem, em Copenhague.

Restará a declaracão conjunta do G-8 e do G-5, que continuava inconclusiva ontem por causa da questão de compromissos de longo ou médio prazo na área climática. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou no começo da manhã de hoje e a partir do meio-dia começará a série de reuniões com dirigentes do G-5 e outros países, como Coréia do Sul.

O presidente da Comissão Européia, José Durão Barroso, insistia que os países ricos precisavam pelo menos aceitar o "princípio" de cortar emissões no médio prazo, inclusive para levar os emergentes a assumir posições ambiciosas. Para ele, a demanda do Brasil para os ricos se comprometerem com metas de médio prazo "reforça" a posição da UE, que já fixou corte de 20% das emissões até 2020.

A própria UE, porém, não consegue se entender sobre seu pacote clima-energia. Analistas dizem que, se a UE conseguir, indicará o que pode ser feito no nível internacional. A França, na presidência rotativa da UE, reconhece a dificuldade para aprovar até o fim do ano as modalidades para permitir que o bloco comunitário alcance o objetivo de 20% de energias renováveis e de reduzir em 20% as emissões de gases estufa até 2020 - mesmo a 30% em caso de acordo internacional.

Para cortar suas emissões, os países do Leste Europeu querem compensações para o grande ajustamento industrial que serão obrigados a fazer e que dizem entravar seu desenvolvimento econômico. A França acena com pacote de ? 50 bilhões. A Polônia considera insuficiente.

Além disso, há um confronto sobre flexibilidade para os países alcançarem a meta. Por uma opção, a Alemanha poderia financiar os meios de transporte verdes na Polônia e contabilizar as toneladas de gases estufa que foram reduzidos, e assim reduzir o ajuste em sua própria industria.

Outra divergência entre os europeus é sobre os meios para evitar o deslocamento de industriais mais poluidoras. A França defende um mecanismo de ajuste na fronteira, exigindo que os exportadores importantes para a Europa comprem autorização de emissões de CO2.

Os países desenvolvidos são responsáveis por mais de 80% das emissões globais de gases estufa. Apesar de representarem somente 13% da população mundial, emitem mais de 40% do percentual global de CO2, segundo Greenpeace. A entidade considera que o Brasil tem "apelo estratégico" na reunião do G-8 por ser também um grande emissor. E contesta o projeto brasileiro de expansão do etanol e mais energia nuclear. (AM)