Título: Infraero vai abrir capital 'provavelmente' só em 2010
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Fonte: Valor Econômico, 08/07/2008, Especial, p. A12
Ruy Baron/Valor Sérgio Gaudenzi: "Criticou-se muito a idéia dos shoppings nos aeroportos, mas agora a crítica terá de ser revertida" A abertura de capital da Infraero ficará "provavelmente" para 2010. O presidente da estatal, Sérgio Gaudenzi, afirma que sua expectativa é receber os estudos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) só em 2009 e, a partir daí, executar um plano de reestruturação. Com ações para modernizar a gestão da empresa, que podem envolver mudanças de legislação e no quadro de pessoal da Infraero, esse plano deve preceder o lançamento de ações no mercado e levaria pelo menos um ano para ser implementado.
"Desde o começo, o BNDES nos disse que preparar a empresa para a abertura de capital não é algo para menos de dois anos", assinala Gaudenzi. O banco de desenvolvimento, encarregado pelo Palácio do Planalto de estudar o formato da entrada de investidores privados na Infraero, apresentou em fevereiro um roteiro de trabalho ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A intenção do governo é preservar o controle societário da empresa, mas colocar no mercado um volume superior a 25% das ações, mínimo exigido para entrar no Novo Mercado da Bovespa, que pressupõe rigor na governança corporativa.
"Isso (a abertura de capital) não acontece num passe de mágica. São uns dois anos de preparação", diz Gaudenzi, sem arriscar quanto será possível arrecadar com a oferta de ações. O valor dependerá de fatores como, por exemplo, a decisão de incorporar ou não à Infraero os aeroportos administrados por ela - 67 no total, dos quais cerca de dez somente dão lucro. Hoje são ativos da União e o governo precisará fazer um ato de transferência para a estatal, se quiser dar maior valor de mercado à estatal.
Gaudenzi defende a incorporação de ativos. "Não é obrigatório, mas é desejável porque dá maior segurança ao investidor", acredita. A aplicação de recursos próprios da Infraero na infra-estrutura aeroportuária é contabilizada como despesa operacional. Só os investimentos em prédios, instalações e equipamentos próprios são tratados normalmente, do ponto de vista contábil. Nos últimos três anos, isso foi decisivo para mergulhar a estatal em prejuízo. Em 2007, o resultado negativo alcançou R$ 76,2 milhões. Se os investimentos fossem considerados para a própria empresa, e não revertidos para a União, teria havido lucro de R$ 261,2 milhões em 2007.
Mexer na propriedade dos espaços aeroportuários e no tratamento contábil dos investimentos não é a única medida necessária. A estatal precisa modernizar-se, "deixar de ser uma grande autarquia", diz Gaudenzi. E isso requer estabelecer um plano de cargos e salários, além de possivelmente exigir enxugamento de pessoal, como já afirmou o ministro da Defesa, Nelson Jobim.
Antes mesmo da abertura de capital, a Infraero deverá traçar um plano de internacionalização. Para atuar no exterior, precisa de uma mudança em lei, de maneira semelhante ao que recentemente ocorreu com a Eletrobrás. "Temos mercados óbvios, como a América do Sul. Ninguém na região trabalha melhor do que nós. Outro mercado em que podemos entrar é na África, aproveitando a facilidade que temos nos países de língua portuguesa. É um continente que terá um surto de aviação", assinala.
Por enquanto, Gaudenzi afirma que a Infraero não trabalha com a perspectiva de novos reajustes das tarifas de embarque, cobradas dos passageiros e recolhidas pelas companhias aéreas no momento de venda dos bilhetes. O presidente da estatal quer aumentar a exploração de áreas comerciais, além de reajustar o valor dos aluguéis pagos pelas lojas atuais, para levantar recursos financeiros e "desonerar os passageiros". Gaudenzi sorri ao dizer que, se falasse isso uns nove meses atrás, "seria apedrejado".
Após o acidente com o avião da TAM em Congonhas, a maior crítica à Infraero foi de ter investido mais na transformação de seus terminais de passageiros em shopping centers do que nas pistas de pouso. Segundo o presidente, que faz uma espécie de "mea culpa", embora a prioridade continue sendo a segurança e o investimento em pistas, a Infraero deve apostar novamente nos shoppings. Em 2007, a exploração comercial dos aeroportos rendeu mais de R$ 613 milhões - ou 27% de toda sua arrecadação.
"Durante muito tempo, criticou-se muito a idéia dos shoppings nos aeroportos. Agora a crítica terá de ser revertida", observa Gaudenzi, que diz ter reforçado sua opinião em recentes viagens internacionais. "Cada vez mais os aeroportos europeus estão tentando tirar receitas dos aeroshoppings para não onerar mais os passageiros. O que nós encaramos como desastre, eles estão encarando como solução."