Título: BB tenta "massificar" hedge em 2008/09
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 08/07/2008, Agronegócios, p. B11
Em linha com uma política já aprofundada na safra 2007/08, o Banco do Brasil reforçou ontem, em Brasília, que montou uma estratégia de "massificação" das operações de hedge para a liberação de crédito rural nesta temporada 2008/09, que oficialmente começou em 1º de julho passado.
Para Luiz Carlos Guedes Pinto, vice-presidente de agronegócios do BB, em um cenário de forte demanda global por alimentos e sucessivos recordes da produção brasileira de grãos é preciso planejamento de longo prazo, inclusive com maior utilização do mercado futuro para o travamento de preços. Nesse sentido, uma das metas é aproveitar as elevadas cotações para ampliar a proteção à renda do agricultor.
O BB deve responder por R$ 30,8 bilhões em liberações de crédito rural em 2008/09, ou 40% do total (R$ 78 bilhões) de recursos anunciados pelo governo federal na semana passada, destinado às agriculturas empresarial e familiar. Nas operações de hedge, o objetivo é mais que dobrar o valor dos contratos, de R$ 350 milhões em 2007/08 para R$ 750 milhões. O foco será a soja. Do crédito total a ser liberado pelo banco, R$ 23 bilhões estarão à espera da agricultura empresarial, 23% mais que em 2007/08, e R$ 7,8 bilhões irrigarão a agricultura familiar, salto de 30%.
Ex-ministro da Agricultura e engenheiro agrônomo, Guedes explica que é preciso acabar com o comportamento crônico que ataca o produtor rural e, por tabela, o BB como principal agente financiador do setor. "Não podemos deixar perpetuar esses ciclos de crise e euforia", afirmou, referindo-se às oscilações de preços que historicamente têm gerado mais perdas do que ganhos ao agronegócio, como também infindáveis renegociações de crédito.
José Carlos Vaz, diretor de agronegócio do BB, informou que as "travas de preços" no mercado futuro têm crescido a uma média de 15% por safra, o que ele acha pouco. Mesmo diante de uma tradição de décadas de uso do mercado futuro por americanos e europeus, Vaz prefere não rotular o país de atrasado, mas admite haver um problema cultural severo. Para ele, "a BM&F e o agronegócio brasileiros são vanguarda entre os países de agricultura tropical".
Pela limitação cultural, o diretor diz que a orientação dos técnicos do banco é "convidar" o produtor a fazer contratos com hedge no mercado futuro. "O Brasil tem condições de pensar as perspectivas da agricultura no longo prazo", completa Guedes Pinto. O vice-presidente do BB lembra que "só a demanda da China por soja triplicou".
Outro ponto importante para a segurança do produtor - e que também vem sendo estimulada pelo governo - é a adoção de seguro rural com prêmio subsidiados. Na última safra, cerca de 51,2% dos recursos de custeio liberados pelo BB estavam segurados (R$ 2 bilhões pelo seguro agrícola e R$ 4,3 bilhões pelo Proagro). Nessa área, o governo de Minas Gerais seguiu o de São Paulo e vai garantir 25% do prêmio das apólices, de forma que o agricultor arcará com apenas 25%, já que o governo federal subsidia 50%. Outros Estados podem adotar políticas similares.
Guedes Pinto afirmou que a partir de agosto os pedidos de crédito rural poderão ser feitos pela internet. A informatização está em curso, para acolhimento, envio e acompanhamento das propostas, que terão a liberação também automática segundo o cadastro de cada produtor. O crédito rural eletrônico incluirá revendas de máquinas ou insumos.