Título: Inflação aumenta custos com títulos e eleva dívida
Autor: Izaguirre, Mônica
Fonte: Valor Econômico, 08/07/2008, Finanças, p. C3

O custo médio da dívida pública federal interna em títulos públicos (DPMFi) atingiu, em maio, o equivalente a uma taxa de juros de 14,2% ao ano, 1,7 ponto percentual acima do registrado em abril (12,5%). O número foi divulgado ontem pelo Tesouro Nacional (STN). Na avaliação do órgão, essa alta se deve principalmente à aceleração inflacionária, que aumentou os custos de carregamento de títulos com remuneração atrelada a índice de preços.

Em seu relatório, divulgado com duas semanas de atraso por causa da greve dos servidores, o Tesouro lembra que a inflação do IPCA, índice no qual se referencia parte dos papéis, subiu de 0,55% em abril para 0,79% em maio. Também afetou a dívida a aceleração dos preços medidos pelo IGP-DI, cuja variação mensal passou de 0,69% para 1,61%.

O impacto da inflação foi sentido principalmente sobre a parcela da dívida com vencimento nos próximos doze meses, cujo saldo encerrou maio em R$ 350,77 bilhões. A participação dos papéis atrelados a índices de preços nesse montante deu um salto superior a cinco pontos percentuais, saindo de 9,33% para 14,36%, em apenas um mês. Em dezembro 2007, essa fatia da dívida de curto prazo representava 11,66%. O valor nominal dos papéis remunerados pela inflação com vencimento num horizonte de doze meses também subiu significativamente de abril para maio, saindo de R$ 30,71 bilhões para R$ 50,35 bilhões, segundo as tabelas divulgadas ontem.

Já em relação ao total da DPMFi, que fechou maio de R$ 1,239 trilhão, a fatia remunerada por índices de inflação registrou até em ligeira queda, saindo de 27,63% para 27,37% (R$ 339,27 bilhões). A relativa estabilidade do percentual foi favorecida pelo resgate líquido desse tipo de papel, que ajudou a neutralizou, sob esse aspecto, o efeito da incorporação da correção monetária. Os resgates de títulos atrelados a índices de preços somaram, em maio, R$ 9,03 bilhões, quantia R$ 2,24 bilhões superior ao de emissões novas na mesma modalidade.

Considerando todas as modalidades, o Tesouro Nacional emitiu R$ 22,9 bilhões em novos títulos no mês passado, principalmente com remuneração prefixada (37% do total ou cerca de R$ 8 bilhões). Aqueles atrelados à taxa Selic representaram 33,2% (R$ 7,6 bilhões). Só em terceiro lugar, aparecem os papéis vinculados a índices de inflação, cujas emissões, de R$ 6,8 bilhões, representaram 29,7% do total.

Alvo de esforço de elevação do Tesouro Nacional nos últimos anos e meses, a participação de papéis prefixados no total de sua dívida mobiliária interna fechou maio em 34,3%, fatia ligeiramente superior à registrada no fim de abril (34%).

Relativamente, o que subiu mais foi o estoque de títulos vinculados à taxa Selic, cuja participação no estoque total da dívida passou de 32,65% para 35,42% de abril para maio. Esse movimento reflete ao mesmo tempo a elevação da taxa básica de juros pelo Banco Central (que define a meta Selic) e a preocupação do mercado com a alta da inflação. Nesses momentos, os investidores preferem títulos com taxas flutuantes, como é a Selic, em vez de prefixados.

Liquidamente, as emissões foram de R$ 8,5 bilhões, o que influenciou no aumento total da dívida. No fim de abril a DPMFi era de R$ 1,218 trilhão e maio, de R$ 1,239 trilhão. Além das emissões líquidas, o aumento em maio, que nominalmente foi de 1,71%, decorreu de incorporação de juros e correção, no montante de R$ 12,4 bilhões.

Somada a dívida externa, a dívida pública federal subiu de R$ 1,318 trilhão para R$ 1,337 trilhão, variação de 1,43%.