Título: Paulinho nega participação em esquema de desvios do BNDES
Autor: Jayme , Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 10/07/2008, Política, p. A8

Em dois dias de depoimentos ao Conselho de Ética da Câmara, o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), apontou aos parlamentares qual será a sua linha de defesa às acusações da participação dele em uma quadrilha especializada em desviar recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O presidente da Força Sindical tentará colocar todas as responsabilidades em cima de João Pedro de Moura, indicado pela Polícia Federal como um dos principais líderes do esquema.

Paulinho tem ao seu lado o fato de, até agora, nenhuma gravação de conversas dele o ter flagrado tratando de recursos provenientes dos desvios do BNDES. Em diversos trechos das duas oitivas ao Conselho de Ética, o deputado citou o depoimento de Moura à Justiça, no qual dizia que citava o nome de Paulinho para aumentar sua partilha nas negociatas das quais participava. "É difícil explicar o que os outros dizem. O que posso dizer é que não recebi cheque nenhum. Moura usou meu nome indevidamente", disse ontem o pedetista.

Ao ser questionado sobre uma planilha encontrada pela Polícia Federal com integrantes do esquema, na qual o nome do deputado era incluído entre os beneficiários de recursos, Paulinho diz que o documento fora elaborado por Moura para demonstrar a veracidade de seus argumentos. "Eles estavam discutindo o benefício a mais que receberiam. Quando disseram que tinham de repassar dinheiro a mim, apresentaram a planilha. Tinha de ser algo bem feito. Mas não sei porque meu nome está na planilha, eu não a fiz. Não recebi cheque algum", diz o deputado.

Moura foi conselheiro do BNDES entre 2002 e 2007 por indicação da Força Sindical. Foi substituído pelo advogado Ricardo Tosto. Os dois foram presos pela Operação Santa Tereza, da Polícia Federal, que deflagrou a quadrilha que operava no banco.

Nos pontos que mais atingem Paulinho, as explicações do deputado ainda parecem insatisfatórias a alguns integrantes do Conselho de Ética. Ontem, o deputado mudou um pouco a versão sobre um apartamento que teria sido doado por Moura à organização não-governamental Meu Guri, presidida pela mulher de Paulinho, Elza Pereira, e depois retomada pelo ex-conselheiro do BNDES depois de pagamento de R$ 37,5 mil.

Na terça-feira, Paulinho disse que Moura havia repassado o apartamento à Meu Guri, que venderia o apartamento, avaliado em R$ 80 mil. A afirmação levou o deputado Efraim Filho (DEM-PB) a dizer que seria fácil rastrear o negócio, já que compra e venda de imóveis deixam rastro. Ontem, o pedetista disse que o apartamento continuou no nome de Moura, que apenas fez uma procuração à Meu Guri para que o imóvel fosse vendido.