Título: Presidente diz apostar em agricultura familiar
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 10/07/2008, Internacional, p. A12
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem aos dirigentes do G-8 e de outras grandes economias emergentes que pode em pouco tempo dobrar produção agrícola do país, quando levar mais tecnologia para a agricultura familiar.
Ao contrário de outros dirigentes, Lula reiterou que o país não vê a alta dos preços dos alimentos como um problema, mas como uma grande oportunidade, e que o desafio agora é produzir mais. "Há cinco anos que o mundo está comendo estoques. E, se não os repõem, um dia vai faltar", disse.
Para indicar como o Brasil pode aproveitar as oportunidades em meio à crise, ele explicou que o governo vai colocar R$ 25 bilhões até 2010 à disposição para a agricultura familiar, que vai financiar 60 mil tratores.
Para o presidente brasileiro, quando a tecnologia chegar ao setor de agricultura familiar, o país poderá em pouco tempo dobrar a produção agrícola brasileira, já que esse segmento é responsável por quase 70% de todo o alimento consumido atualmente no Brasil.
Enquanto o presidente americano, George W. Bush, reconhecia que a alta do preço do petróleo vem sendo o grande impulsionador da explosão do preço dos alimentos e da inflação global, Lula defendeu o etanol e voltou a atacar especulação financeira.
Exemplificou que a especulação chegou a tal ponto no mercado futuro de petróleo ele já tem comercializado hoje a mesma quantidade de barris que a China consome. Ou seja, existe o dobro de petróleo virtual, o que pode explicar em parte o barril a quase US$ 150.
"Os mais precipitados consideram que o biocombustível é o responsável (pela crise alimentar), quando isso poderia ser no caso do milho nos Estados Unidos", afirmou o presidente brasileiro. Lula reclamou que ninguém quer discutir o efeito do petróleo sobre os alimentos.
No Brasil, o custo da energia representa hoje 30% no preço dos alimentos.
Nesse cenário, o presidente cobrou do diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, que a entidade explique a especulação, para ajudar a definir medidas a serem tomadas.
No encontro, o presidente atacou também a nova lei de imigração européia, que pode ser bastante dura para brasileiros vivendo no velho continente. "Migrantes não têm que ser tratados como problema policial, e sim social e econômico. O Parlamento Europeu tratou isso com muita dureza", reclamou. (AM)