Título: Dívida externa do Brasil tem boa performance no contexto atual
Autor: Lucchesi , Cristiane Perini
Fonte: Valor Econômico, 10/07/2008, Finanças, p. C2
Em meio ao contexto sofrível dos mercados desde o início de junho, os títulos de dívida dos países emergentes se saíram melhor na comparação com os demais papéis de renda fixa e variável. E, entre os emergentes, a performance relativa do Brasil foi boa, dizem analistas. "Os títulos brasileiros vão continuar a se sair melhor do que a média dos emergentes", diz Pablo Goldberg, chefe de estratégia de renda fixa para mercados emergentes da Merrill Lynch.
Ele não nega que a inflação internacional tem levado os bancos centrais dos países emergentes a elevar os juros internos, o que resulta em uma piora nas contas fiscais e em uma desaceleração do crescimento interno. "Mas o Brasil é exportador de commodities e uma alta no preço desses produtos também provoca maior crescimento interno, pois estimula as exportações."
Para ele, o crescimento econômico dos países emergentes continua descolado do crescimento das economias americana e européia. Drausio Giacomelli, chefe de estratégia de mercados emergentes do Deutsche Bank, apresenta números: cerca de 70% do crescimento mundial neste ano tem vindo de países emergentes, com destaque para a China, Índia e Brasil, "Mas a inflação maior é igual para todos os países e passa a criar uma correlação entre o crescimento de todas as economias, provocando um 're-coupling' dos emergentes com os países desenvolvidos", diz.
Giacomelli lembra que a performance brasileira relativa tem sido tão positiva que o prêmio de risco-Brasil medido pelo swap de crédito (CDS) de vencimento em cinco anos estava a 125 pontos básicos ontem, apenas 7,5 pontos acima do México, que tem uma de nota de crédito um degrau acima da brasileira. Enquanto o risco-Brasil subiu 4% desde o dia 29 de abril, antes de o país obter o primeiro grau de investimento, o do México subiu 37,4%. "E a dívida pública do México em relação ao Produto Interno Bruto é de 25%, enquanto no Brasil é de 65%", afirma Giacomelli, que considera que os preços dos papéis mexicanos estão mais atrativos.
O caso da Turquia e do África do Sul também são ilustrativos, com altas respectivas de 29,8% e 43,1% no risco-país, respectivamente. Na comparação com um índice de mercados emergentes de CDSs de vencimento em cinco anos muito usado pelo mercado, o CDX EM, que subiu 18,8% no período, o Brasil também está com performance melhor. "E os emergentes se saíram bem em relação a outros tipos de crédito", lembra Giacomelli.
Como o Brasil é credor externo líquido e seus papéis agora são considerados de baixo risco (grau de investimento) pela Standard & Poor's e FitchRatings, em um ambiente de maior cautela como o atual não é de se estranhar que o mercado de dívida externa tenha apresentado performance melhor do que da bolsa.
Em um cenário no qual a emissão de ações se tornou prerrogativa para poucos, as empresas estão recorrendo a muitos empréstimos externos bilaterais e sindicalizados, comenta Alexei Remizov, responsável pela área de mercado de capitais do HSBC.