Título: Vale do São Francisco começa a industrializar suas frutas
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Fonte: Valor Econômico, 10/07/2008, Agronegócios, p. B13

Conhecido mundo afora pelo cultivo de uva e manga, o Vale do Rio São Francisco começa a sofisticar sua produção. Além de frutas de mesa voltadas para a exportação, o maior pólo de fruticultura do Brasil dá início à fabricação de sucos, polpas e outros alimentos industrializados.

Com uma área de 33 mil hectares nas cidades de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA), o cultivo de uva e manga já começa a dar seus primeiros sinais de saturação, principalmente em tempos de câmbio desfavorável às vendas no exterior.

Assustados com a lucratividade em declínio, mesmo com a manutenção dos preços das frutas no mercado internacional, os produtores não devem mais ampliar suas áreas plantadas, segundo expectativa da Valexport, associação que reúne os exportadores da região.

O novo fôlego para as frutas do Vale do São Francisco vem com a chegada da agroindústria. "Ela permite agregar valor a um produto muito barato", afirma Leonardo Pifano, diretor da Copa Fruit, empresa de liofilização de frutas da Fruitfort, uma das maiores exportadoras de uvas e mangas do Vale.

Neste ano, a companhia começou a produzir manga, uva e banana secas, devendo atingir 800 mil toneladas por ano. Cada quilo de manga liofilizada, que usa três quilos da fruta natural, deve ser vendido a US$ 13. Quando comercializa apenas a fruta de mesa, a Fruitfort ganha US$ 0,64 por quilo. O plano da Copa Fruit é vender o produto para fabricantes de sorvetes, iogurtes e cereais, por exemplo.

O mesmo caminho está sendo trilhado pela Terra Sol, fazenda de uvas. "Hoje, com esse câmbio, o empresário está tendo de reinventar o negócio", afirma Antônio Pereira de Lucena, diretor Terra do Sol. Ele testa a produção de uva-passa para ser usada em saladas de fruta no exterior.

Além de agregar mais valor à produção, a industrialização das frutas reduz a dependência do produtor em relação às taxas de câmbio. "Se o dólar ficar abaixo de R$ 1,60, não sabemos o que vai ser da fruticultura. O plano B é a agroindústria. Existe uma grande expectativa em torno disso", diz Jeziel Junior da Cruz, coordenador técnico da Valexport.

Indústrias de alimentos que abastecem o mercado interno também estão começando a comprar parte dessa abundante produção do Vale.

A Trop Brasil, fornecedora de polpas para a Sucos Mais (Coca-Cola), adquiriu neste ano, pela primeira vez, mil toneladas de mangas em Petrolina para processá-las em Linhares (ES). "A maior vantagem do Vale é ele permitir a produção de frutas o ano inteiro. Enquanto no resto do país não há produtos, lá sempre tem", explica Marcos Leonardo de Miranda, gerente-geral da Trop Brasil. No futuro, a empresa avalia implantar uma unidade industrial na região.

A oferta constante de frutas por 365 dias também atraiu a fabricante gaúcha de sucos e espumantes Georges Aubert. A companhia está na fase final de dimensionamento do tamanho da planta que quer instalar em Petrolina. "O retorno do investimento é muito mais rápido em Pernambuco do que no Rio Grande do Sul porque as condições climáticas permitem que a primeira colheita se realize em metade do tempo", diz Miguel Fortes, representante dos acionistas da Georges Aubert.

Outra fabricante gaúcha de sucos de frutas que já anunciou sua ida ao Vale do São Francisco é a Tecnovin.

Mas nem tudo é fácil às margens do rio São Francisco. A Niagro, uma das poucas agroindústrias que já se instalou na região nos anos 90 para produzir polpas, tem dificuldade em conseguir uma quantidade adequada de matéria-prima.

"São raros os fazendeiros que se dedicam à fruta para a agroindústria. Em geral, só vai para a fábrica o refugo da exportação, aquela fruta que não atingiu a qualidade necessária para ser vendida no exterior", diz Ivan Leal, diretor da Niagro.

A fruta para suco é bastante diferente daquela voltada à exportação. Ela requer menos cuidados e é mais barata. Por isso, quando o real está desvalorizado em relação ao dólar, poucos produtores se interessam em ofertar as frutas às indústrias.

"Mas é preciso diversificar a produção do Vale e garantir uma oferta regular. Até porque isso atrai mais compradores", avalia José Gualberto, presidente da Valexport. Nesse esforço, a Embrapa também está pesquisando o desenvolvimento de 13 novas culturas para a região.

A primeira tentativa de industrializar a produção do Vale do São Francisco se deu nos anos 80, quando a região era um grande pólo de tomates. Mas, depois do ataque da praga mosca-branca, as fábricas fecharam suas portas. A atividade predominante passou a ser a plantação de frutas para o consumo in natura. A exceção fica por conta dos vinhos, cuja produção ainda está em desenvolvimento.