Título: Bolsas que sobrevivem à queda dos mercados
Autor: Slater , Joanna
Fonte: Valor Econômico, 10/07/2008, EU & Investimentos, p. D3

Enquanto bolsas despencam pelo mundo, dois mercados improváveis têm se saído melhor do que a maioria - Canadá e México. Os dois estão bastante ligados à problemática economia dos EUA, mas conseguiram evitar a hemorragia que ocorre pelo mundo.

O Canadá está mais ou menos estável no ano, a única exceção às grandes perdas registradas pelos mercados de países desenvolvidos. No México, apesar de a bolsa ter caído este ano, a queda é modesta se comparada ao declínio de dois dígitos de muitos emergentes.

O mercado canadense seguiu a alta das commodities, uma das razões pelas quais sua resistência pode estar esmorecendo. Se os preços de commodities começarem a baixar, como deram sinais nos últimos dias, as bolsas podem ser atingidas duramente no Canadá. O índice composto S&P/TSX, principal referência do mercado canadense, caiu 10% desde que atingiu seu recorde, em junho. Mas a baixa no ano ainda está em apenas 1,6%.

Diferentemente de outros emergentes, o México não teve uma grande alta em 2007. Quando o medo de desaceleração nos EUA aumentou, no fim do ano passado, os investidores começaram a castigar as ações mexicanas, e deixaram o mercado na dianteira do mais recente ajuste mundial das bolsas. O IPC, da bolsa mexicana, está em baixa de cerca de 5% no ano, enquanto as bolsas da Ásia e de outros emergentes como a Rússia registram perdas muito maiores.

O Canadá e o México respondem lentamente ao puxão para baixo dado pela economia dos EUA. Mas ambos estão agüentando mais do que se poderia esperar, já que cerca de 80% de suas exportações vão para o vizinho, e as moedas dos dois se fortaleceram diante do dólar no último ano, prejudicando a competitividade.

Embora algumas regiões canadenses sofram com a desaceleração americana, outras foram turbinadas pela alta mundial das commodities. No México, as exportações de petróleo mantêm o dinheiro fluindo para os cofres públicos, o que o governo tem usado para fortalecer a economia com investimento em infra-estrutura.

O Fundo Monetário Internacional prevê que tanto o Canadá como o México registrem modestas expansões econômicas este ano - de 1,3% e 1,9%, respectivamente -, ante o 0,5% dos EUA. O principal índice do Canadá é dominado por ações de energia e matérias-primas, que correspondem a cerca de 50% de seu valor de mercado, refletindo a força do país em petróleo, gás natural, minério e fertilizante.

"Para onde as commodities vão, deve ir o mercado canadense", diz Garey Aitken, diretor de investimento da Bissett Investment Management, de Calgary, província de Alberta. A gestora tem cerca de US$ 17 bilhões e é uma divisão da americana Franklin Templeton.

Os futuros de petróleo e gás natural caíram bastante nos últimos dias. Algumas das ações canadenses que mais subiram - como a da EnCana, produtora de gás natural, e a da Potash Corp. of Saskatchewan, maior fabricante de fertilizantes do mundo - foram atingidas. Os papéis caíram 12% e 5%, respectivamente, desde o começo do mês, mas ainda ganham no ano.

A Research in Motion, fabricante do celular inteligente BlackBerry, tem alta de 4% em 2008. Apesar de os lucros e a receita terem dobrado ante o mesmo trimestre do ano anterior, os investidores puniram a ação da empresa no mês passado, quando ela informou que as despesas estavam em alta.

O setor financeiro do Canadá, que corresponde a um quarto do principal índice do mercado, vem tendo desempenho ruim, como o dos EUA, mas não sofreu com a crise de crédito na mesma medida. Os bancos "têm ficado para trás, não sangrado", diz George Vasic, estrategista da UBS Securities Canada. Ações de grandes empresas de bens de consumo têm caído, num reflexo das preocupações com o desaquecimento econômico.

Apesar de sua relativa capacidade de se recuperar este ano, o Canadá tende a ser ignorado entre grandes investidores americanos porque não está incluído num índice bastante acompanhado por gestores de fundos internacionais. É uma grande lacuna: no fim de junho, o valor de mercado do Canadá era maior que o da Alemanha no mercado mundial fora os EUA.

Algumas ações mexicanas tiveram recuperação no ano. A da Desarrolladora Homex, construtora de imóveis, subiu 16% no ano depois de ter caído o mesmo percentual no ano passado. Os papéis mexicanos estão no momento sendo negociados a cerca de 11 vezes os lucros previstos das empresas em 2008, segundo o Citigroup.

Mas persistem preocupações econômicas. "Claramente, se os EUA afundarem numa recessão mais profunda, há sempre uma possibilidade de outra queda", diz Geoffrey Dennis, estrategista de América Latina do Citigroup.

A inflação está em alta no México, como em outros emergentes, o que inibe o consumo. "Temos uma visão cautelosa quanto ao consumidor mexicano", diz Will Landers, que administra US$ 8 bilhões em investimentos em ações latino-americanas para a BlackRock.