Título: Prejuízo por tragédia na Ásia deve superar US$ 13 bi
Autor: Agências internacionais
Fonte: Valor Econômico, 29/12/2004, Brasil, p. A7
A catástrofe em vários países do sul da Ásia, onde um maremoto causado por um terremoto submarino matou ao menos 60 mil pessoas, segundo contagem ainda preliminar, deve trazer prejuízos de mais de 10 bilhões de euros (US$ 13,6 bilhões). A estimativa é de principais pesquisadores da Munich Re, a maior resseguradora do mundo. Gerhard Berz, chefe da Geo Risk Research, área de análise da Munich Re, disse que sua estimativa partia de uma "intuição pessoal", já que ainda não há números confiáveis à disposição. Ele ressaltou também que o custo do desastre para as seguradoras deve ser bem menor que o prejuízo total, já que muito pouco estava segurado. Estimativas preliminares do Banco Mundial indicam que os países afetados pela catástrofe vão precisar de cerca de US$ 5 bilhões em ajuda. Esse é um montante semelhante ao oferecido à América Central depois do furacão Mitch, um dos piores desastres dos últimos anos, que deixou cerca de 10 mil mortos e causou prejuízo de US$ 10 bilhões, em 1998. Foto: Associated Press
Voluntário tira a digital de vítima para posterior identificação na Tailândia
Os países da União Européia e a ONU vão realizar uma conferência internacional para decidir como será fornecido o auxílio para os países atingidos. A Comissão Européia deixou disponível aos países afetados a quantia de 30 milhões de euros. Para Glenn Maguire, economista-chefe do Societé Generale para o sudeste da Ásia, "com a enorme necessidade de ajudar as vítimas, certamente haverá um sério relaxamento nas políticas fiscais" dos países atingidos. "O impacto econômico será grande, mas não o suficiente para tirar a economia da região dos trilhos em 2005." O país mais afetado economicamente parece ser o Sri Lanka, que já terá de enfrentar a partir de janeiro o impacto do fim da cotas de comércio mundial de têxteis, seu principal produto de exportação. "É provavelmente o pior revés já sentido pela economia do Sri Lanka", disse Arjuna Mahendran, economista-chefe e estrategista do Credit Suisse Private Banking, em Cingapura. "Grandes esforços de reconstrução só poderão ser iniciados em 2006. O governo não tem recursos para fazê-los agora." A tragédia deve reduzir o crescimento do PIB do país de 5% para 4%, estima Mahendran. Isso por causa da queda do turismo, atividade que cresceu 11% só nos dez primeiros meses deste ano. Na Tailândia, o impacto deverá ser menor, com queda de 0,1 ponto percentual no crescimento do PIB. A tragédia humanitária, por seu lado, é muito maior. Segundo a Organização Mundial da Saúde, o número de mortes pode até dobrar nos próximos dias por causa de doenças e dificuldades no socorro. "Há o risco de tanta gente morrer por causa de doenças contagiosas quanto as que morreram por causa dos tsunamis [as ondas provocadas por abalo sísmico]", disse David Nabarro, chefe das operações de emergência da OMS. Segundo ele, doenças ligadas à falta de água potável e de cuidados sanitários serão difíceis de ser combatidas nos próximos dias. Na Indonésia, onde o número de vítimas chegou a 27.174 mil, as autoridades tentam enterrar os mortos o mais rápido possível. As primeiras estimativas falavam em 5 mil mortos, mas a chegada do socorro a áreas isoladas agravou muito o quadro. Na ilha de Sumatra, região mais atingida do país, estão ocorrendo saques a lojas e supermercados. Um sobrevivente de uma área remota na província de Aceh (norte da ilha) disse que sua cidade estava toda coberta pela água e que os poucos sobreviventes estavam vivendo de cocos. O terremoto e o tsunami destruíram a maior parte da infra-estrutura da província, tornando difícil levar remédios e suprimentos para cerca de 4,3 milhões de pessoas. Aceh, que sofre com uma guerra separatista que já dura 26 anos, estava sob estado de sítio antes da tragédia. O governo da Indonésia, entretanto, suspendeu as medidas de exceção para facilitar a ajuda internacional. De acordo com cálculos do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), pelo menos um terço das pessoas que morreram no maremoto são crianças. As estimativas da organização são baseadas na composição demográfica da região, afirma o porta-voz do Unicef em Nova York, Alfred Ironfide. À medida em que o tempo passa, novos países entram para a lista de países afetados pela tragédia. Na Tanzânia (África), 10 pessoas foram confirmadas mortas ontem e em Mianmar, 30.