Título: Bombril afasta representantes de ex-controlador
Autor: Talita Moreira e Vanessa Adachi
Fonte: Valor Econômico, 29/12/2004, Empresas &, p. B3

Assembléia de acionistas realizada ontem afastou os representantes do ex-dono da Bombril, Ronaldo Sampaio Ferreira, dos conselhos de administração e fiscal da empresa. Fernando Rezende, que fazia parte do conselho de administração, foi substituído pelo economista Isaac Ferreira da Silva - que até meados do ano era funcionário da Funcef (fundo de pensão dos empregados da Caixa Econômica Federal). No conselho fiscal, José Geraldo Fogolin ocupou a vaga de Gustavo Ramos. Fogolin, contador, é ligado ao presidente do conselho de administração da Bombril, Valmir Camilo. Ambos foram bancários e integrantes do sindicato da categoria em Araçatuba (SP). Os advogados de Ferreira devem questionar na Justiça as trocas de conselheiros, segundo fontes ligadas ao empresário. As mudanças completam uma reestruturação no conselho e na diretoria da empresa, que começou em outubro. Na época, Camilo assumiu a presidência do conselho, e José Edson Bacellar Jr., a direção da empresa. Também houve trocas no conselho e em boa parte dos cargos executivos. Tanto os antigos como os novos conselheiros foram indicados pelo administrador judicial da Bombril, José Paulo de Sousa, que vota nas assembléias como acionista majoritário. A empresa está sob administração judicial desde agosto de 2003 por causa de um processo movido por Ferreira contra o italiano Sergio Cragnotti, a quem vendeu o controle acionário. O brasileiro alega que não recebeu a totalidade do pagamento. O grupo Cirio, de Cragnotti, está sob intervenção do governo na Itália por conta de seu envolvimento num escândalo contábil. Segundo Camilo, o afastamento dos conselheiros teve o objetivo de blindar a gestão da disputa judicial. "As brigas devem continuar na Justiça. Não pode haver outro interesse aqui que não seja o desempenho da empresa." Desde que teve início a administração judicial, vinham sendo mantidos representantes de Ferreira e de Cragnotti no conselho de administração da Bombril. "Agora, podemos dizer que o conselho está profissionalizado e não há mais representantes das partes", disse Camilo. No entanto, permanece como conselheiro Waldir Sant'ana, um dos principais executivos da Bombril nos tempos de Cragnotti. Segundo fontes que acompanham a disputa, Sant'ana ainda representa os interesses do empresário italiano no Brasil. Sant'ana não é o único a ter seu nome ligado de alguma forma a Cragnotti. O administrador judicial, José Paulo de Sousa, trabalhou para o Banco Central como liquidante do Brasilinvest, do empresário Mario Garnero - que por sua vez já fez negócios com o italiano. Garnero é investigado pela Justiça italiana por supostamente fazer investimentos com recursos desviados do grupo Cirio. Em novembro, Ferreira obteve na Justiça o direito de receber indenização de US$ 240 milhões de Cragnotti e de suas empresas. A decisão, embora de primeira instância, abriu caminho para que o brasileiro começasse a negociar com o governo italiano um acordo para retomar o controle da Bombril. A expectativa é de que um entendimento seja fechado em janeiro.