Título: João Henrique assumirá com discurso de austeridade
Autor: Patrick Cruz
Fonte: Valor Econômico, 31/12/2004, Política, p. A6
O prefeito eleito de Salvador, João Henrique Carneiro (PDT), vai assumir o poder no sábado comprometido com o desafio de criar postos de trabalho em uma das capitais com a maior taxa de desemprego do país, dar andamento ao projeto do metrô municipal, orçado em US$ 300 milhões e com a inauguração da primeira etapa prevista para 2007, e levar à frente o plano de municipalização dos serviços de saúde. Nenhuma dessas pautas, entretanto, ganha mais força no discurso do futuro prefeito que a da austeridade com os gastos do município. Mesmo antes de sua posse - em nome do controle das despesas de sua administração, segundo o próprio -, Carneiro já abriu mão de uma das promessas de campanha, a da criação da Secretaria de Meio Ambiente. O número de secretarias será mantido em 16. As reformas administrativas foram pedidas pela equipe de João Henrique e defendidas pelo próprio atual prefeito, Antonio Imbassahy (PFL). O clima de cooperação entre atual administração e a futura repetiu, guardadas as proporções, o ocorrido quando o então candidato eleito Luiz Inácio Lula da Silva trabalhou com membros do governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. "A transição está ocorrendo no melhor clima possível", disse Carneiro ao Valor na última semana.
A austeridade com os gastos do município deverá ser o mote do discurso de posse, segundo a equipe que trabalha no texto. O choque de gestão prometido pelo prefeito eleito vai repetir a experiência vivida por Minas Gerais, mas não terá o Estado apenas como referência vaga. Carneiro (que tem como vice o tucano Marcelo Duarte, do mesmo partido do governador mineiro Aécio Neves) encontrou-se com o secretário de Planejamento e Gestão de Minas, Antônio Augusto Anastasia, para entender detalhes do programa que anulou um déficit público de R$ 2,4 bilhões no Estado. Em Salvador, a responsabilidade pelo choque de gestão planejado por João Henrique ficará a cargo da Secretaria de Administração, sob o comando de Luís Carlos Café, nome excluído da negociação com os aliados e indicado pelo próprio Carneiro. A primeira incumbência de todas as secretarias será a de reduzir em 20% os gastos de custeio no primeiro ano do mandato do pedetista. Há também o plano, ainda inicial, de aglutinar boa parte da administração na região do centro histórico da cidade, o que pode representar custos menores para a administração e ampliar a interação entre as pastas. Um exemplo citado por Carneiro é o da Secretaria de Habitação, que hoje funciona em quatro diferentes prédios. No lado econômico, a geração de emprego será o principal desafio, como salienta o futuro secretário da Fazenda, Reub Celestino. Cerca de 450 mil pessoas estão sem trabalho na Região Metropolitana de Salvador. A idéia da futura administração é voltar a atrair empresas que originalmente atuavam na cidade, mas partiram para outros municípios. "Mas a intenção não é entrar em guerra fiscal", diz Celestino. O futuro prefeito já determinou aos seus 16 futuros secretários que estudem alternativas para reduzir em 20% as despesas correntes (gastos operacionais, excluídas as despesas com salários). "Vamos trabalhar sempre com a idéia de enxugamento da máquina e austeridade", diz Carneiro. O clima de rivalidade apresentado durante a campanha eleitoral deu lugar a trabalho em conjunto no período de transição. A reforma administrativa proposta por Carneiro foi aprovada sem grandes sobressaltos, assim como o Orçamento, negociado entre as duas equipes de governo. O Orçamento de 2005 será de R$ 1,6 bilhão, mesmo valor deste ano, mas com o acréscimo da variação do IPCA em 2004. Carneiro elogia o fato de as contas da atual administração estarem em dia, mas faz a ressalva de que "as receitas quase empatam com as despesas. Não sobra nada para investir".