Título: Para analista, só baixa do juro impulsiona o setor
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 31/12/2004, Finanças, p. C1

Para o analista de bancos do ING, Pedro Guimarães, é equivocada a justificativa de que a aplicação compulsória dos bancos em crédito imobiliário deve ser diminuída porque não há demanda por recursos. "Há demanda sim, mas da população de baixa renda, que não passa pelos sistemas de avaliação de risco dos bancos. O grande déficit habitacional é entre a população de baixa renda", afirmou. Somente com a queda dos juros, disse Guimarães, os bancos vão se animar a assumir mais risco e fazer operações de crédito mais longos e acessíveis à baixa renda. Para o analista, que acompanha os bancos de diversos mercados emergentes, o crédito imobiliário só ganhou impulso em países como o Peru e a Colômbia quando os juros caíram para um dígito. "Nesses países, o crédito imobiliário é um poderoso propulsor do crescimento da economia", lembrou. A redução da exigibilidade de aplicação em crédito imobiliário favoreceria os bancos com maior estoque de depósito em poupança, que são a Caixa Econômica Federal, Bradesco, Itaú, Unibanco, Real e Nossa Caixa. O papel poderoso do crédito imobiliário como combustível para o crescimento teria sido, na sua avaliação, o principal motivo que levou o governo Fernando Henrique, em setembro de 2002, pela Resolução nº 3.005, a reduzir em 1% ao mês a posição em Fundo de Variação de Compensação Salarial (FCVS) para efeito de enquadramento dos bancos na aplicação compulsória de 65% dos depósitos em poupança em crédito imobiliário. Nesse cronograma, levaria 100 meses para zerar o saldo do FCVS. Pelo mesmo motivo, imagina, o governo Lula, em março deste ano, pela Resolução nº 3.177, acelerou para 2% a redução do saldo de FCVS virtual. Naquele momento, disse Guimarães, provavelmente o governo trabalhava com uma perspectiva melhor para a evolução dos juros.