Título: ONU fala em crimes de guerra
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 26/02/2011, Mundo, p. 24

O Conselho de Segurança das Nações Unidas, presidido neste mês pelo Brasil, reuniu-se ontem em Nova York para examinar um projeto de resolução, redigido pelas potências ocidentais, que adverte Muamar Kadafi sobre a possibilidade de que a violência contra os manifestantes na Líbia seja classificada como crime contra a humanidade, segundo anteciparam diplomatas ouvidos pelas agências internacionais de notícias. ¿É hora de agir¿, disse mais cedo o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, mas a expectativa era de que o texto não seria votado na sessão de ontem.

A pressão internacional contra o regime líbio continuou aumentando ao longo do dia. Os Estados Unidos anunciaram que devem impor sanções unilaterais e multilaterais ao país. Na véspera, o presidente Barack Obama havia se reunido com líderes europeus para discutir possíveis medidas punitivas contra Kadafi. A embaixada de Washington na Líbia, reaberta há poucos anos, teve suas operações suspensas.

Governos da União Europeia chegaram a um consenso sobre sanções à Líbia e devem incluir um embargo à venda de armas, o congelamento de bens e a proibição de viagens de autoridades líbias. A decisão formal, no entanto, somente será adotada na semana que vem. Em atitude inédita, o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas recomendou à Assembleia Geral que suspenda a Líbia do quadro de membros do próprio conselho.

Apesar da mobilização de governos e organismos internacionais, o professor de relações internacionais Heni Ozi Cukier, da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), acredita que pouco pode ser feito no momento. ¿A situação pede uma intervenção militar, mas o custo político dela é muito alto para qualquer país¿, diz o especialista.

Questionado se as sanções econômicas podem surtir algum efeito, Cukier é taxativo. ¿Elas nunca tiveram efeito nenhum. Nenhuma sanção econômica vai fazer Kadafi mudar. Apenas sua vida e sua fortuna o preocupam.¿ Resta, segundo ele, a pressão política, que poderia ser combinada com garantias ao líder de que ele possa sair ileso da Líbia com sua fortuna. Nesse caso, porém, a população líbia possivelmente não aceitaria a fórmula. (RT)