Título: Regime perde apoio e deserções crescem
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 26/02/2011, Mundo, p. 24

A embaixada da Líbia em Brasília, na QI 15 do Lago Sul, foi alvo ontem de pichação com frases contra o regime de Muamar Kadafi. O autor do protesto solitário foi o líbio Abdalla Al-Hamdy, 43 anos, numa forma de pedir o fim dos violentos confrontos entre manifestantes e policiais, que ocorrem há quase duas semanas no país. Na França, manifestantes ocuparam o prédio da embaixada líbia em Paris. Enquanto Kadafi pedia ao povo para ¿lutar contra seus inimigos¿, mais diplomatas renunciaram e se uniram à revolta contra o governo.

Al-Hamdy, morador de Brasília, afirmou ontem, logo depois de pintar ¿Fora Kadafi¿ no portão de entrada da embaixada, que o ato não era uma ¿pichação¿, e sim ¿uma manifestação¿. Policiais do 5° Batalhão da Polícia Militar foram ao local, mas não prenderam o cidadão líbio, a pedido da representação diplomática. O embaixador do país no Brasil, Salem Ezubdi, declarou, na quinta-feira, seu apoio ao ditador e afirmou que não renunciaria ao cargo, ao contrário de outros representantes do país que decidiram abandonar o regime nos últimos dias. O clima na representação em Brasília é de divisão. Apesar da declaração de Ezubdi, alguns funcionários da embaixada discordam da postura oficial.

Desde o início dos protestos, em 15 de fevereiro, Kadafi vê aumentar a cada dia as baixas de colaboradores pelo mundo. Ontem, a missão da Líbia junto às Nações Unidas em Genebra anunciou sua deserção do regime, durante uma reunião do Conselho dos Direitos Humanos da ONU. Todos os 11 membros da delegação do país na Liga Árabe anunciaram a entrega de seus cargos e também devem juntar-se aos opositores que exigem a queda do ditador. Outras demissões foram confirmadas pelos embaixadores líbios em Portugal, na França e na Unesco, com sede em Paris. ¿Condenamos firmemente os atos de repressão na Líbia¿, informaram os representantes em território francês, em um comunicado.

Invasão O embaixador líbio em Lisboa, Ali Ibrahim Emdored, classificou o regime de ¿fascista, tirânico e injusto¿ e pediu a ajuda das grandes potências para acabar com os violentos conflitos no país. ¿As ações tirânicas deste regime contra o seu povo são um crime sem precedentes. Considero-me a partir de agora um membro dessa jovem revolução. A comunidade internacional deve agir rapidamente para pôr fim a esses massacres e aos banhos de sangue que estão a suceder¿, atacou, em um comunicado.

Um grupo de opositores invadiu ontem a Embaixada da Líbia em Paris. A polícia cercou o edifício e impediu a entrada de outros manifestantes, assim como a entrega de alimentos às cerca de 30 pessoas que estão no local. Os jovens ameaçavam cometer suicídio coletivo caso houvesse intervenção da polícia. Eles hastearam a antiga bandeira líbia, com as cores verde, vermelha e preta, no lugar da criada por Kadafi .