Título: O juiz que coloca banqueiros na cadeia
Autor: Basile , Juliano
Fonte: Valor Econômico, 11/07/2008, Brasil, p. A5

O juiz Fausto Martin de Sanctis é o homem por trás da mais extensa lista de prisões de empresários e executivos de bancos do país. Depois de mandar à cadeia o investidor Daniel Dantas, o especulador Naji Nahas e o ex-prefeito Celso Pitta, na terça-feira, ontem ele foi além. Em uma atitude desafiadora, devolveu Dantas à cadeia menos de doze horas após ser solto por ninguém menos que o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes.

Ao longo de sua carreira, Sanctis se destacou pelo perfil duro de suas decisões à frente de uma das mais importantes varas especializadas em crimes financeiros e de lavagem de dinheiro do país, a 6ª Vara Criminal da Justiça Federal de São Paulo.

Foi por ordem de Sanctis que o ex-dono do Banco Santos, Edemar Cid Ferreira, ficou 89 dias na cadeia em 2006. A prisão de executivos da área de private banking (que administra recursos de pessoas ricas) dos bancos Credit Suisse, UBS, AIG e Clariden Leu também é de sua lavra. O juiz já enfrentou até mesmo megatraficantes, como o colombiano Juan Carlos Ramírez Abadía, condenado por ele a 30 anos e cinco meses de prisão e ao pagamento de multa de R$ 4,32 milhões. No noticiário esportivo, o russo Boris Abramovich BerezovskyJ, que "comprou" o Corinthians, é o grande destaque.

É justamente o defensor de BerezovskyJ, Alberto Zacharias Toron, o advogado criminalista apontado como o inimigo número um do juiz Sanctis. Toron tem uma lista grande de clientes que passaram pelas mãos do juiz da 6ª Vara Federal Criminal de São Paulo. Entre eles, o próprio Daniel Dantas e Jacques Feller, da Feller Engenharia. "Fomos colegas no mestrado e no doutorado, mas não sei porque ele passa por mim e não olha na minha cara", diz Toron. "Mas se ele precisasse de minha ajuda eu o ajudaria sem problemas", completa Toron, não sem antes contar que o "juiz Fausto" foi reprovado no concurso de livre docência da Universidade de São Paulo.

Sanctis, no entanto, é professor da Universidade São Judas Tadeu e do Instituto Nacional de Pós-Gradução (INPG). É especialista em Direito Processual Civil pela Universidade de Brasília (UnB) e doutor em Direito Penal pela USP.

Em seu livro "Combate à Lavagem de Dinheiro - Teoria e Prática", lançado em junho pela Editora Millenium, ele propõe aperfeiçoamentos na legislação e integração da Polícia Federal, Banco Central, Ministério Público Federal, Tribunais Regionais Federais e órgãos como o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), além da cooperação jurídica internacional, na apuração, investigação e processamento dos crimes financeiros e de lavagem de dinheiro.

Na visão do juiz, o crime financeiro atingiu estágio avançado de profissionalismo e o Judiciário mal responde às expectativas. Em entrevistas à imprensa, ele criticou o uso excessivo de habeas corpus no Brasil e o foro privilegiado, que, na sua visão, favorece os abastados. Para ele, o foro privilegiado, combinado com o excesso de recursos, é usado para impedir que o processo chegue ao fim e termine com a absolvição, por prescrição.

Após a prisão de Edemar, Sanctis ficou tão famoso que foi convidado pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos para conhecer durante duas semanas o funcionamento das agências anti-lavagem de dinheiro, convite aceito no final de 2007. Entre outros empresários que já se tornaram réus nos processos liderados por Sanctis estão sócios da Le Postiche, da Chaves Gold e Ornare Móveis.

Advogados criminalistas, que o respeitam, também o criticam ferozmente. Acusam-no de ser um juiz policial, imparcial por tratar os acusados como bandidos e mordaz em suas decisões que driblam as instâncias judiciais superiores.