Título: BC fará o que for preciso para inflação voltar ao centro da meta, diz Meirelles
Autor: Torres , Fernando
Fonte: Valor Econômico, 11/07/2008, Finanças, p. C2

Meirelles: "Não se espere desse Banco Central uma atitude complacente" O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, afirmou ontem que a autoridade monetária fará o que for necessário para garantir que a inflação medida pelo IPCA volte para o centro da meta estipulada pelo governo, de 4,5%, já no próximo ano. "Que não se espere desse Banco Central uma atitude complacente quanto à inflação. Os formadores de opinião e formadores de preço não devem ter dúvidas quanto à disposição da autoridade monetária de tomar decisões visando promover a convergência da inflação para o centro da meta já em 2009", disse.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou ontem que o IPCA subiu 0,74% em junho, pouco menos do que o 0,79% de maio. Em 12 meses, o indicador aumentou 6,06%. No acumulado do ano, avançou 3,64%. A expectativas para a inflação oficial deste ano e do próximo têm sido revisadas semanalmente para cima nos últimos boletins Focus. No documento mais recente, a projeção dos analistas consultados pelo BC era de um IPCA de 6,40%, acima dos 6,30% calculados no relatório antecedente. Foi a 15ª vez consecutiva em que a estimativa foi ampliada. Para 2009, ainda segundo o Focus, a perspectiva é de que o IPCA se situe em 4,91%. Tanto para este ano como para o próximo, o centro da meta para o IPCA é de 4,5%, com variação de 2 pontos para mais ou para menos.

Meirelles participou ontem da conferência "O Impacto do Brasil na Economia Global", promovido pelo Conselho das Américas e pelo Movimento Brasil Competitivo. Ele se negou, como de costume, a adiantar os passos futuros da política monetária. Segundo Meirelles, a cada reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) fará "a análise da conjuntura e das condições prospectivas de inflação futura e tomará sua decisão para assegurar que a inflação convirja para o centro da meta em 2009". Fazer isso, diz, não é nada além da obrigação da autoridade monetária. "O Banco Central simplesmente cumpre sua missão básica, que é entregar a inflação no centro da meta, a não ser que haja choques, como existiram este ano", afirmou.

O presidente do BC negou que diminuir a inflação do atual nível de 6% em 12 meses para 4,5% já no final do ano que vem será muito custoso para a sociedade. "A história demonstra, inclusive no Brasil, que o combate à inflação feito na hora certa, tempestivamente, é o que produz melhores resultados, com menores custos para a sociedade. E estamos no tempo e na hora", disse, lembrando que o BC brasileiro não começou a agir agora, mas no início do ano.

Meirelles avalia que é papel do BC evitar que aumentos de preços "inicialmente isolados" levem a uma deterioração das expectativas de inflação e a uma piora dos índices de forma persistente. Se isso acontecesse, aí sim, o combate à inflação "teria de ser muito mais custoso para a sociedade".

De acordo com Meirelles, os bancos centrais mundiais terão agora que tomar medidas restritivas de política monetária para evitar a continuidade da escalada de preços. Segundo ele, os economistas apelidaram o período entre o início da década de 1990 e meados de 2007 como a "era da grande moderação", já que as economias cresciam com inflação baixa, mesmo com juros reduzidos. Ao longo desses anos, o desenvolvimento econômico da China e da Índia contribuiu para manter a inflação mundial sob controle, "graças à incorporação maciça de tecnologia da informação e de mão-de-obra barata ao processo produtivo. A China e, em menor escala, a Índia, exportavam deflação para o resto do mundo", disse. Mas esse cenário mudou nos últimos dois meses.

Para Meirelles, a inflação nos países desenvolvidos está mais relacionada com a alta dos preços das commodities, enquanto nos países emergentes, incluindo o Brasil, o componente de pressão de demanda "tem tido papel relativamente mais importante". Segundo ele, há consenso entre os BCs mundiais de que a economia global está "superaquecida" e que precisa crescer a taxas mais moderadas. Isso, diz, fará com que as taxas de juros subam de forma geral, ainda que em ritmo e tempo diferentes em cada país ou região.