Título: Bancos devem rever modelo no Brasil e AL, diz Santander
Autor: Neumann , Denise
Fonte: Valor Econômico, 11/07/2008, Finanças, p. C3

Francisco Luzón: "bancos brasileiros estão capitalizados e possuem provisões" Os bancos brasileiros e da América Latina precisam adaptar o modelo de atuação dos últimos anos para ajudar as economias da região a minimizar os efeitos da crise financeira mundial. A região, embora mais protegida do que o resto do mundo dos efeitos da crise, não vai passar incólume, advertiu, ontem, o diretor geral para as Américas do Santander, Francisco Luzón. Os efeitos serão sentidos não pela via financeira, mas pelos impactos da desaceleração e da inflação na economia real. Entre os países da região, Luzón considera o Brasil o mais preparado, mas também no país a operação precisa ser adaptada. Cautela é a palavra que resume as recomendações do executivo.

O banco mantém os planos de obter crescimento de 20% a 25% no lucro líquido de suas operações na região entre 2008 e 2009, mas conta com a possibilidade de que as receitas oriundas da intermediação financeira - depósitos, fundos, créditos - cresçam menos. "Continuamos empenhados em conseguir, na média de 2006 a 2009, um crescimento médio anual nos negócios de intermediação em torno de 25%, mas para o período 2008-2009 prevemos que o crescimento mostrará uma certa desaceleração, ficando entre 10% e 15%", disse Luzón, ao encerrar o VII Encontro Santander-América Latina, realizado em parceria com a Universidade Internacional Menéndez Pelayo, na cidade espanhola de Santander.

As projeções de lucro, informou o executivo, estão mantidas e implicam crescimento de 20% neste ano e em 2009.

Para Luzón, o modelo de bancarização adotado pela instituição - e por vários de seus concorrentes - precisa ser adaptado e, após um ciclo de cinco anos ancorado no crédito, deve mirar uma dimensão de serviços e "proteção". Na nova etapa, o incremento dos serviços bancários (especialmente para a classe média emergente, antes fora do sistema financeiro) deve mirar produtos de poupança e investimento que permitam aos atuais (e aos novos) clientes protegerem seu patrimônio da inflação e também oferecer serviços (como o pagamento de contas). Mesmo defendendo a necessidade de uma nova etapa no processo de bancarização, Luzón disse que a instituição pretende manter a oferta de crédito, mas a associou a adjetivos como "responsável, seletivo e sustentável".

Falando da região e do sistema bancário como um todo, incluindo os bancos centrais, Luzón argumentou que "não se pode, e nem se deve, lutar com uma mão contra a inflação de demanda subindo as taxas de juros e com outra seguir atiçando o fogo da demanda interna". Para ele, a inflação - o maior risco macroeconômico atual para os países da região - é uma tarefa de toda a sociedade. E a contribuição das entidades financeiras passa por admitir que se está em "um novo estágio e que uma das bandeiras de mudança da região, a bancarização, tem que se adaptar aos novos ares para manter a vantagem competitiva da América Latina, que é contar com o melhor sistema bancários dos países emergentes".

Se o maior risco macroeconômico é a inflação, o maior risco para os sistemas bancários da região seria "fechar os olhos e pensar que o futuro pode ser uma extrapolação das tendências observadas nos últimos anos", ponderou Luzón. Ele considera inevitável - e positivo para o médio e longo prazo da região - que os bancos centrais tenham (e ainda estejam) reagindo com taxas mais altas de juros e também com maiores requerimentos de capital e provisões, esfriando as principais economias e o crescimento do crédito, a exemplo do que está ocorrendo no Brasil. Como conseqüência, diz, a relação entre crescimento dos negócios bancários na região e o Produto Interno Bruto (PIB) - que tem oscilado entre 2,5 e 3 vezes, caia.

"Mirando o futuro, seria recomendável que a região consolide os avanços na bancarização, retornando, temporiamente, a uma elasticidade entre 1,0 e 1,5 vez o PIB", defendeu. Para Luzón, portanto, a cautela é necessária para evitar que os avanços recentes sejam perdidos.

Luzón avalia que a ampliação recente do acesso ao crédito bancário indica, tão logo a economia comece a esfriar, "um aumento da taxa de inadimplência e das taxas de risco na intermediação bancária". No Brasil, essa taxa está hoje em torno de 5,5% (no sistema como um todo) e nos demais países, em 2%.

O executivo do banco, contudo, considerou que no Brasil "os bancos estão muito bem capitalizados e possuem provisões". Ele não vê risco de que o sistema bancário local seja afetado, financeiramente, pela crise mundial, mas acredita que a desaceleração da economia americana possa, pela via da demanda pelos bens brasileiros, afetar o ritmo de crescimento do país, como já está previsto nas projeções macroeconômicas do banco, que indicam alta de 4,7% do PIB para este ano e 4% para 2009.