Título: PF espera ter respostas de Dantas em novo depoimento
Autor: Balarin, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 14/07/2008, Brasil, p. A4

Um novo depoimento do banqueiro Daniel Dantas à Polícia Federal está marcado para a próxima quarta-feira. A expectativa dos policiais que cuidam do inquérito que resultou na Operação Satiagraha, na semana passada, é de que Dantas desta vez responda às perguntas, entre elas a de que se ele teria conhecimento da oferta de suborno a um delegado que cuidava do caso e se ele reconhece a planilha encontrada durante a busca e apreensão realizada na terça-feira passada em seu apartamento, no Rio.

Na sexta-feira, antes de ser libertado pela segunda vez da prisão por novo "habeas corpus" deferido pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, Dantas prestou depoimento na sede da PF em São Paulo. Mas manteve-se calado, respeitando decisão de seu advogado criminal Nélio Machado. O advogado alegara que não tinha tido tempo suficiente para ler as 6 mil páginas do inquérito.

Em relação ao papel encontrado em seu apartamento, com o título "doações ao clube", em que aparecem quantias ao lado de descrições como "contribuição à campanha de João à presidência", a hipótese mais provável é de que a defesa não o reconheça e que sustente que ele pode ter sido plantado no material apreendido. Quando foi feita a operação de busca no apartamento de Dantas, o banqueiro a princípio se recusou a assinar o termo apresentado pela PF porque, segundo seus advogados, documentos que não estavam lá poderiam ter sido incluídos no material apreendido. Ao final, Dantas e seu advogado só aceitaram assinar o termo "sob protesto".

Na sexta-feira, no aeroporto Santos Dumont, no Rio, Dantas tentou se esquivar de jornalistas, mas reforçou que é vítima de perseguição política. No passado, representantes do Opportunity sustentaram que investigações feitas pelas autoridades italianas sobre a Telecom Italia indicavam que políticos brasileiros haviam sido corrompidos. Nenhum dos documentos dessa investigação foram analisados no Brasil até hoje.

Na operação Satiagraha, da Polícia Federal, Daniel Dantas é acusado de lavagem de dinheiro, evasão de divisas, formação de quadrilha, uso de informação privilegiada e corrupção de servidores públicos. A acusação que mais preocupa a defesa é a de corrupção (suborno), que envolve o executivo Humberto Braz, uma espécie de braço-direito de Dantas, segundo a polícia.

No fim de semana, Dantas não foi encontrado em seu apartamento, em Ipanema (zona sul do Rio). Representantes do Opportunity também trataram de trocar seus telefones celulares - gravações telefônicas são a base para grande parte das acusações da PF.

O investidor Naji Nahas e o ex-prefeito Celso Pitta, que também chegaram a ser presos na operação Satiagraha, não deram entrevistas no fim de semana. Em nota, Celso Pitta declarou que estava "indignado com a invasão" de sua casa e disse que a operação da Polícia Federal tem "intenções claramente eleitoreiras". Na sexta-feira, um filho de Naji Nahas atendeu seu celular e disse que o pai estava descansando. O telefone permaneceu desligado ao longo do fim de semana.(Colaborou Vanessa Adachi)