Título: Grupo tenta se desvincular da imagem do foragido Braz
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 14/07/2008, Brasil, p. A5
O grupo Opportunity tem feito de tudo para se desvincular da imagem do executivo Humberto Braz, que, para a Polícia Federal, seria o braço direito do empresário Daniel Dantas. Braz, que está foragido desde que a Justiça expediu um mandado de prisão contra ele, há uma semana, é uma peça-chave para se apurar o elo entre Dantas e a tentativa de suborno do delegado Victor Hugo Alves Ferreira.
O suborno é a peça mais concreta de toda a apuração da PF até agora. Braz fez o primeiro contato com o delegado Victor Hugo e marcou um encontro. No dia, enviou seu amigo Hugo Chicaroni - o único da operação Satiagraha que continua preso. No segundo encontro, apareceu e, de acordo com a PF, disse que estaria autorizado por Daniel Dantas a pagar uma propina de R$ 1 milhão para que o nome do banqueiro, de sua irmã e de um sobrinho fossem retirados de um inquérito policial.
A defesa de Dantas nega que ele soubesse de qualquer negociação nesse sentido, embora admita que o banqueiro conhecesse o executivo. Em telefonema gravado pela PF em 5 de maio, Dantas, já ciente da investigação em curso, pergunta a Braz se o delegado Protógenes Queiroz era o responsável, conforme relatou reportagem do Valor na sexta. Por tudo isso, a versão de Braz é cada vez mais valiosa.
No Opportunity, a informação é de que Braz não trabalha lá. De fato, nos últimos meses ele se apresentava como sócio da MB2 Consultoria Empresarial. Ninguém sabe quem é o advogado de Braz e não há pedido de "habeas corpus" em favor do executivo. Embora more no Rio, a informação de conhecidos é de que sua família está em Minas Gerais, sua terra natal.
Casado e pai de três filhos, Humberto José da Rocha Braz passou boa parte de sua vida profissional - cerca de 20 anos - trabalhando para a construtora Andrade Gutierrez. O currículo apresentado pela Brasil Telecom Participações na época em que o executivo presidia a holding que controla a BrT informa que ele ocupou diversos cargos na construtora, desde encarregado pelos relacionamentos institucionais até diretor comercial, passando por assistente da diretoria. De acordo com a Andrade Gutierrez, Braz teria se desligado da construtora por causa de uma oferta recebida do grupo Opportunity. Não teria havido desentendimentos em sua saída.
Graduado em comunicação social e com MBA em gestão pela Fundação Instituto de Administração (FIA), Braz também exerceu o cargo de diretor de relações institucionais da Brasil Telecom Participações, na época em que o Opportunity estava à frente das companhias. Quando o Citigroup rompeu com o Opportunity - antes gestor das participações do banco americano na BrT e em outras companhias, até março de 2005 - e se aliou os fundos de pensão, Braz ocupava o cargo de diretor-presidente da BrT Participações. Acabou sendo demitido por justa causa pela gestão que assumiu o lugar do Opportunity.
Por conta da intrincada cadeia societária da BrT, fundos e Citi demoraram mais de seis meses, de intensas batalhas com o Opportunity, até conseguir chegar de fato à gestão da empresa. Em setembro de 2005, quando alcançaram a gestão da holding então presidida por Braz, os novos controladores o demitiram sob a alegação de que teria dispensado, dias antes da nova gestão assumir, dois executivos que atuavam como seus adjuntos e concedido indenizações de saída com valores não previstos pelas políticas de remuneração. Os valores estavam na faixa dos R$ 250 mil e R$ 300 mil. Na época, Braz se defendeu dizendo que os valores eram proporcionais ao previsto. Em seguida, foi à Justiça contestar a dispensa por justa causa.
Depois disso, ele, que mora na zona sul do Rio, ainda atuava em nome dos interesses de Dantas. Os grampos feitos pela polícia apontam Braz como o interlocutor que se comunicaria com o investidor Naji Nahas.
Braz é apontado por fontes que transitavam em meio a disputa societária da BrT como o homem da "conversa". "Ele guarda suas raízes mineiras e esteve à frente de algumas negociações com os fundos na época em que o Citi ainda não havia se aliado às fundações", diz uma fonte, que só concordou em atender o Valor pessoalmente, com medo de que seu telefone estivesse grampeado. No processo mais recente de negociação para o encerramento das disputas entre os sócios da BrT e o acerto da venda para a Oi, Braz não teve participação na linha de frente, dizem os envolvidos, mas colaborou na operação.(Colaborou Raquel Balarin)