Título: TV acirrará disputa de PSDB e DEM por Serra
Autor: Junqueira, Caio
Fonte: Valor Econômico, 14/07/2008, Política, p. A2

A disputa entre o prefeito Gilberto Kassab (DEM) e o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) pela presença do governador José Serra (PSDB) em suas campanhas deve se acirrar com o início do horário eleitoral gratuito da televisão, em 19 de agosto, quando ambos pretendem abusar das imagens de Serra em seus programas e da importância da parceria entre governo do Estado e prefeitura para melhores resultados na gestão.

A diferença é na forma de utilização dessas imagens. Tendo por "primeira obrigação de campanha não constranger o Serra" - nas palavras de um estrategista do prefeito-, Kassab exibirá imagens dos dois sem que elas tenham ligação direta com as eleições de outubro deste ano. Entretanto, imagens das eleições de outubro de 2004, quando compuseram a chapa vencedora em São Paulo, serão mostradas sob o pretexto de apresentar sua biografia e também de prestar contas da administração municipal iniciada pelo governador e continuada pelo atual prefeito. Essa, aliás, é uma preocupação já apresentada por Serra ao comando da campanha.

Pedido de votos diretos de Serra, porém, estão descartados, em respeito à regra do "não-constrangimento". Em seu lugar, as muitas declarações de apreço por Kassab que o governador tem feito, exaltando resultados da parceria para a cidade. Há duas semanas, por exemplo, Serra disse que essa parceria "nunca foi tão estreita, coisa que nunca tinha acontecido na história de São Paulo" e que "vai continuar sendo, se Deus quiser, no futuro". Desde o lançamento da candidatura Alckmin, Serra e Kassab já estiveram juntos oficialmente em pelo menos quatro situações. Os dois tucanos, nenhuma.

Esse dado não é levado muito em conta pela campanha do ex-governador. A avaliação é de que o momento oportuno para a entrada de Serra no processo eleitoral do PSDB é com o horário gratuito de TV. Até lá, a intenção é que o ex-governador compareça a todos os 96 distritos da cidade como forma de ter contato pessoal com os eleitores e ouvir suas demandas.

Isso decorre do fato de, diferentemente de Kassab, Alckmin já ter densidade eleitoral na cidade em razão das eleições que participou e dos cargos que ocupou. Nessa linha, as necessidades dos dois são diferentes: Kassab precisa mais de Serra do que Alckmin, embora a campanha tucana também tenda a explorar a parceria, tal qual Serra a explorou nas eleições de 2004.

Os articuladores de Alckmin, aliás, fazem repetidas menções ao processo eleitoral de quatro anos atrás, quando a situação era invertida: Serra disputa a prefeitura e Alckmin ocupava o Palácio dos Bandeirantes. Segundo esses tucanos, a expectativa é de que o atual governador atue como Alckmin naquele embate com Marta Suplicy (PT): suba palanque, peça votos e faça caminhadas.

Pesquisas eleitorais também deverão dar o tom dessa participação. O mais recente Datafolha apontou que 63% dos eleitores afirmam que Serra deveria apoiar Alckmin, ao passo que 24% disseram que deveria declarar apoio a Kassab. Para 6%, não deveria apoiar candidato algum.

Afora isso, um distanciamento de Alckmin (31%) de Kassab (13%) nas pesquisas força a entrada mais contundente de Serra na campanha do tucano. Essa é, inclusive, a opinião do governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), com o qual a coordenação da campanha tucana se encontrou na semana passada no Palácio da Liberdade. A análise é de que Alckmin deve aproveitar o período pré-televisão para se distanciar de Kassab e forçar automaticamente a presença de Serra na campanha para polarizar com o presidente Lula, que entrará forte na campanha de Marta. O governador, de acordo com essa avaliação, precisaria contrabalancear a presença ostensiva do governo federal na disputa da capital paulista.

Enquanto dispensa a presença de Serra neste primeiro momento da campanha, os alckmistas estruturaram essa fase com três agendas diferenciadas pela cidade, encampadas, além do próprio Alckmin, pelo seu candidato a vice, Campos Machado (PTB), e também pela sua mulher, Lu Alckmin. A prioridade são os eleitores da periferia, de baixa renda, em especial moradores dos redutos petistas.