Título: Ford decide reduzir tempo para lançar modelos no Brasil
Autor: Olmos , Marli
Fonte: Valor Econômico, 14/07/2008, Empresas, p. B7
Os fabricantes de automóveis começam a se preparar para enfrentar a chegada dos modelos importados, que, com a desvalorização do dólar, ganham cada vez mais espaço no mercado brasileiro. Para combater os concorrentes trazidos por importadores independentes, a Ford vai reduzir o tempo entre o lançamento dos seus novos produtos na Europa e no Brasil.
Hoje, as montadoras levam, em média, de um ano e meio a dois para trazer e produzir no Brasil os carros lançados na Europa, continente que inspira a maior parte das linhas de automóveis vendidos no Brasil. Com exceção dos populares, como o novo Ka, Gol, Palio e Celta, criados e desenvolvidos no Brasil, os modelos de médio luxo vendidos - e quase sempre produzidos - no mercado brasileiro reproduzem as versões européias. "Decidimos encurtar o tempo entre lançamentos fora do país e aqui", diz o diretor de assuntos corporativos da Ford, Rogelio Golfarb, sem adiantar as novas metas.
A participação dos carros estrangeiros no mercado brasileiro - somando o que trazem importadores e as próprias montadoras - está próxima de 13%, quase o dobro do percentual de dois anos atrás. É uma fatia maior do que a própria Ford tem no país.
Recentemente, a Abeiva, entidade que representa as marcas sem fábricas no Brasil, anunciou que este ano sua fatia no mercado brasileiro passou de 0,4% para 1%. Ainda é pouco, mas, além de o crescimento chamar a atenção é preciso lembrar que a produção nacional ainda está bastante protegida. Os modelos estrangeiros feitos fora do Mercosul e México recolhem Imposto de Importação de 35%.
A idéia da Ford de garantir uma linha de produtos cada vez mais em dia com os lançamentos em outros países é evitar que o consumidor brasileiro seja seduzido pelas novidades trazidas pelos importadores e que, ao contrário de algum tempo atrás, não se limitam apenas aos modelos de luxo.
Segundo Golfarb, a companhia está preocupada com o descompasso cada vez maior entre o aumento dos custos para os produtores locais e a queda de custos para quem só importa.
A desvalorização do real não seria tão danosa, diz o executivo, se não estivesse acompanhada hoje da pressão inflacionária. A Ford não revela quanto acumula em custos. Mas Golfarb garante que é impossível repassar a totalidade ao preço final.
Ainda que à espera de medidas governamentais para conter a alta da inflação, a montadora incrementa hoje a quantidade de ações para reduzir custos. "Estamos em plena guerra contra a inflação interna", afirma Golfarb.
Nessa batalha, a empresa decidiu intensificar o treinamento dos funcionários em programas de racionalização. Além disso, os veículos lançados hoje trazem uma redução de custos já a partir do projeto. Golfarb lembra que, graças ao novo conceito do projeto, o novo Ka é fabricado com uma redução de 26% no número de horas em relação à versão anterior.
Além disso, a empresa também começou a pesquisar novas matérias-primas, como fibras, que vão substituir peças plásticas e outros derivados de petróleo, mais caros e mais pesados.
O aumento dos custos e a concorrência dos importados ocorrem em um momento em que o setor cresce com vigor. As vendas de veículos no primeiro semestre cresceram 30% na comparação com igual período de 2007. Golfarb espera um crescimento de 20% na segunda metade do ano, o que deverá levar a médias próximas de 24% durante o ano todo.
Para ele, apesar dos temores com o avanço da inflação, não há motivos para o setor deixar de crescer. Para o executivo, a indústria automobilística vive o efeito de um país cujo PIB cresce a taxas anuais próximas de 5% e onde o transporte individual ainda é a opção em centros urbanos.
Junta-se a esse cenário o aumento de renda da população. "A mola do crescimento ainda é nítida", diz. A queda na taxa de crescimento no segundo semestre, diz, será resultado de dois fatores : o volume de vendas no segundo semestre de 2007 foi maior do que na primeira metade do mesmo ano, o que traz uma base de comparação também maior. Além disso, há inflação. O setor começou a frear. Mas muito pouco em relação ao que ainda pode crescer, sustenta o executivo.