Título: Disparada do petróleo faz Nynas reajustar seus preços todo mês
Autor: Capela , Maurício
Fonte: Valor Econômico, 14/07/2008, Empresas, p. B8

Endre Kallay, gerente-geral da Nynas, conta que capital de giro global da empresa alcançou US$ 300 milhões por mês A multinacional sueca Nynas tem acompanhado de perto as oscilações do preço do barril de petróleo mundo afora, que hoje já beira os US$ 150. Grande compradora da commodity, que serve de base para a sua produção de óleos naftênicos e betume, a companhia resolveu repassar globalmente as oscilações dos preços do insumo.

Segundo Endre Kallay, gerente-geral da Nynas no Brasil, a primeira alteração de um petróleo nesse patamar no dia-a-dia da multinacional pode ser vista no seu capital de giro. "Para compramos a commodity para nossas refinarias, passamos a gastar mundialmente US$ 300 milhões por mês. E esse valor é o dobro do que precisávamos há um ano e meio", detalha o executivo ao Valor. Controlada pela estatal venezuelana PDVSA e pela finlandesa Neste, a empresa faturou US$ 2,9 bilhões em 2007.

No Brasil, com um petróleo quebrando sucessivos recordes, o reflexo foi imediato e não houve como segurar o repasse. Segundo Kallay, a Nynas tem aumentado os preços de seus produtos entre 6% e 8% desde janeiro.

Mas o mais surpreendente, conta o executivo, é que não houve recuo de demanda. Pelo contrário. Em junho deste ano, a empresa registrou um de seus melhores meses. Vendeu 4 mil toneladas de óleo naftênico, contra uma média histórica mensal de 3 mil toneladas. A Nynas costuma vender seus produtos para indústrias de equipamentos, de pneus, entre outros.

"Neste ano, deveremos negociar 45 mil toneladas de naftênicos, o que representará um crescimento de 10% em relação ao desempenho de 2007. E o mais impressionante é que o preço médio também deverá subir", diz Kallay. No acumulado do ano até junho, o valor médio da tonelada desse óleo da Nynas já está em US$ 1,3 mil. Em 2007, o valor médio foi de US$ 900. "Mas se o petróleo mantiver essa curva de alta, o valor poderá até dobrar em comparação ao ano passado", admite.

O sentimento do gerente-geral da Nynas no país em relação ao comportamento do preço do petróleo no mercado internacional está no caminho certo. Analistas ouvidos pelo Valor afirmam que o viés da commodity é de alta.

Lucas Brendler, analista de Investimentos da Geração Futuro Corretora, estima que o preço médio do petróleo tipo Brent em 2008 será de US$ 115. Só para se ter uma idéia, no ano passado o valor médio da commodity do tipo Brent foi de US$ 72,66.

"Há um potencial de aumento de preços no petróleo, porque há um crescimento da demanda e uma restrição de oferta", afirma Brendler. Em relação à demanda, a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) projeta um aumento de 80 mil barris por dia, elevando a demanda para 86,85 milhões de barris diários. Hoje, a oferta é próxima dos 86 milhões de barris por dia.

Boa parte do incremento da demanda se deve aos países emergentes. "Nós vemos um importante crescimento do consumo na China, Índia e Oriente Médio em 2008 e 2009", acrescenta Didier Houssin, diretor do IEA. E estima-se, inclusive, que a demanda chinesa por petróleo deverá subir 5,6%, impulsionada pela venda crescente de carros e viagens de avião. Para Brendler, os países emergentes vão compensar uma eventual redução de demanda nos Estados Unidos, que é o maior consumidor de petróleo do mundo.

Na sexta-feira, o petróleo deu sinais de que os temores de uma explosão de preços têm fundamento. O contrato do barril do tipo Brent para agosto deste ano, negociado na Bolsa Internacional do Petróleo de Londres, fechou em US$ 144,49, alta de US$ 2,46. Já na Bolsa Mercantil de Nova York, a commodity do tipo WTI, também para agosto, foi comercializada a US$ 145,08, acréscimo de US$ 3,43.

A alta do barril reflete ainda a tensão entre Irã e Israel, além da possibilidade de grupos revolucionários na Nigéria atacarem refinarias no país. "É impossível substituir a produção iraniana, caso ocorra algo", afirma Abdalla El-Badri, secretário-geral da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). (Com agências internacionais)