Título: Crédito à empresa média atrai bancos
Autor: Carvalho , Maria Christina
Fonte: Valor Econômico, 14/07/2008, Finanças, p. C1

Nas últimas semanas o Banco Pine informou que está concentrando seu foco no crédito para empresas de médio porte (o "middle market") e a GE Money, financeira da GE, anunciou a intenção de entrar na área com alguma parceria ou aquisição. "O middle market está na moda", disse Natalia Corfiel, analista de crédito de empresas de mercados emergentes do Dresdner Kleinwort.

O Pine e a GE Money não são os únicos bancos atraídos pelo middle market. Pelo menos outros dez bancos médios focam esse segmento do mercado. Além disso, todos os grandes bancos de varejo voltaram as baterias para esse alvo, desde o ano passado. Uma das razões do interesse, segundo Natalia, é a forte demanda por crédito das empresas médias. Além disso, o crédito para empresas médias é o que oferece melhor retorno depois das operações com pessoas físicas.

Apesar do aumento da concorrência, dos juros e da moderação do crescimento, "os bancos ainda têm um bom momento nesse negócio", disse a analista, acrescentando que ainda há espaço para operar no mercado. Natalia acredita que os bancos médios especializados no "middle market" têm melhores perspectivas de resultados do que os voltados para o consignado. "O mercado de consignado enfrenta um momento realmente mais difícil com a desaceleração do crescimento, aumento da competição e adaptação às novas regras de cessão de crédito", disse.

A partir do próximo ano, as cessões de crédito - um dos principais instrumentos de captação dos bancos médios, especialmente dos especializados em consignado - terão novas regras de contabilização. A mudança atingirá as cessões com coobrigação, que passarão a ter ponderação de 100% para cálculo do capital mínimo e não mais dos 50% atuais. Além disso, o ganho com essas cessões terá que ser contabilizado ao longo do prazo de amortização dos contratos e não mais antecipadamente como ocorre agora.

Natalia acredita que a adaptação será tranqüila, uma vez que muitos bancos médios abriram o capital e lançaram ações no ano passado, se capitalizando. Bancos especializados em "middle" e no consignado fizeram isso, o que alavancou as operações de crédito. Nos doze meses terminados em março, uma amostra dos 16 maiores bancos médios aumentou o crédito em 72,1% em comparação com 35,8% de crescimento registrado pelo mercado nas operações com recursos livres. Os cinco bancos especializados em consignado da amostra aumentaram as carteiras de crédito em 75,9%, um pouco mais do os 68,3% focados em "middle". O retorno também foi melhor para os do consignado, 21,4% anualizados no primeiro trimestre em comparação com 15% dos focados em "middle".

Mas Natalia acredita que isso vai se inverter, com os bancos especializados em "middle" crescendo e lucrando mais, mesmo com o aumento da concorrência. "Os bancos médios são mais ágeis no relacionamento com as empresas médias, vão para o interior, se aproximam dos administradores. Já os grandes bancos esperam a pequena empresa bater na sua agência", ilustrou. Em relação ao funding, o middle market tem a vantagem de ter operações mais curtas do que as de consignado.

Não é por outro motivo que o novo presidente da GE Money, Roberto Bronzere, justificou a intenção de entrar no "middle" como alternativa diversificação de negócios e para reduzir a dependência do financiamento ao consumo, linha suscetível às variações do ciclo econômico.

Como aconteceu com o consignado, os bancos grandes não devem correr para as empresas médias, afirmou Natalia. Isso manteve o destaque dos médios no consignado.

Para o presidente do Pine, Noberto Nogueira Pinheiro Junior, os grandes bancos de varejo olham o "middle" como um "colchão" para amortecer dificuldades em outros mercados. Os grandes bancos também não conseguem oferecer o mesmo serviço, acrescentou, porque os médios estão com o foco mais centrado no segmento e sabem avaliar os riscos.

Outro ponto a favor dos bancos médios é experiência na avaliação de crédito. Conceder crédito para empresas médias tem um risco bem superior ao do consignado e exige um bom time de avaliação. Quem saiu na frente tem vantagem.