Título: Para as indústrias, faltam crédito e pessoal qualificado
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 15/07/2008, Brasil, p. A4

Falta de crédito e de pessoal qualificado são os grandes obstáculos à expansão das indústrias metalmecânicas, tanto no Brasil como na Argentina. O diagnóstico surgiu de uma nova pesquisa entre profissionais (sócios e gerentes) do setor, realizada por uma equipe da Universidade de Ciências Empresariais e Sociais (UCES).

Os pesquisadores, coordenados por Analía Viviana Alvarez, diretora da área de Projetos e Investigação Social da UCES, entrevistaram 800 profissionais (400 argentinos e 400 brasileiros) que participaram dos dois mais importantes eventos do setor, a feira Mecânica 2008, realizada entre 14 e 16 de maio, em São Paulo, e a Fimaqh, realizada entre os dias 28 de maio e 1º de junho em Buenos Aires.

As empresas representadas pelos profissionais entrevistados eram em sua maioria (89% no caso da Argentina e 67% no caso do Brasil) pequenas e médias, com no máximo 50 empregados.

Setor chave para um país em crescimento, já que fabrica máquinas e equipamentos para outras empresas, a indústria de bens de capital está à beira do esgotamento da capacidade de produção dos dois lados da fronteira. De acordo com a pesquisa da UCES, oito de cada dez indústrias metalmecânicas da Argentina estão trabalhando entre 80% e 100% da capacidade instalada de produção. No caso do Brasil são 70%.

A situação é mais grave na Argentina que no Brasil. Em termos relativos e em dólares, as indústrias brasileiras pretendem investir 152% mais que as argentinas em maquinário. Se considerado em moedas locais, o investimento planejado no Brasil supera a Argentina em 68%.

Os profissionais entrevistados revelaram que há muito medo de investir. Do total de entrevistados, apenas 28% na Argentina e 38% no Brasil disseram que "certamente vão investir". Todo o restante se dividia entre "provavelmente sim", "provavelmente não" e "certamente não". Dos 15% argentinos e 8% brasileiros que afirmaram que "certamente não" vão fazer novos investimentos, a maioria alegou falta de condições favoráveis para financiamento e falta de pessoal especializado como razão para não se aventurar em um aumento de produção. Tanto brasileiros como argentinos apontaram prazos curtos e taxas flutuantes nos empréstimos disponíveis no mercado como motivo para não investiram.

Outro dado revelado na pesquisa e que, de certa forma, pode explicar a falta de investimentos, é o curto horizonte de planejamento das empresas. Apenas 10% das indústrias argentinas disseram planejar sua produção por até cinco anos e só 5,8% vão além de cinco anos. A grande maioria planeja no máximo três anos. No Brasil não é diferente, 78% das empresas planejam a produção por um período de até três anos. As que trabalham com um horizonte de quatro anos somam 11% do total e outros 11% planejam até cinco anos.

A falta de investimentos faz com que o perfil do maquinário seja mais atrasado na Argentina que no Brasil, embora nos dois países ainda se utilizem equipamentos que já estão superados nos países industrializados. A pesquisa mostra que a maior parte das empresas brasileiras trabalha com Centros Mecanizados CNC (Comando Numérico de Controle), enquanto na Argentina se trabalha mais com tornos paralelos CNC.

Analía Alvarez, coordenadora da pesquisa da UCES, diz que o fato de o Brasil estar mais avançado que a Argentina no setor metalmecânico, somado aos investimentos insuficientes dos argentinos, pode explicar o que acontece na indústria automobilística, uma das mais integradas. "Os automóveis produzidos na Argentina têm uma média de 40% de autopeças fabricadas aqui, e esse percentual cai a cerca de 25% em termos de valor dos veículos. No Brasil a integração local está entre 80% e 85%." Ela acha que o atraso das indústrias argentinas em termos de maquinário explica porque não tem avançado um plano anunciado pelos dois governos de promover a instalação de indústrias de autopeças na Argentina. (JR)