Título: Indústria critica esboço de acordos setoriais na OMC
Autor: Landim , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 15/07/2008, Brasil, p. A5
Mario Marconini, da Fiesp: "Está absolutamente fora de cogitação" A indústria brasileira reagiu negativamente à possibilidade de acordos setoriais no âmbito da Rodada Doha, da Organização Mundial do Comércio (OMC), em áreas estratégicas como automotivo, máquinas, químico ou eletroeletrônico. No rascunho mais recente, divulgado na última quinta-feira, o mediador industrial, Don Stephenson, incluiu propostas apresentadas pelos países-membros para negociações em 12 setores diferentes.
"Está absolutamente fora de cogitação", disse Mário Marconini, diretor de negociações internacionais da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Na sua avaliação, é "muito tarde" para a iniciativa e trata-se de uma "última pressão". Ele afirmou que, nos setores solicitados pelos ricos para maior abertura, a tendência do Brasil é de maior proteção, incluindo os produtos na lista de sensíveis.
Pelos acordos setoriais, os países interessados eliminariam ou reduziriam muito as tarifas de importação de um segmento específico. Desde o início, ficou estabelecido que a adesão seria voluntária. No rascunho anterior feito pelo mediador estava previsto que as nações que aderissem aos setoriais ganhariam um "crédito" para cortar menos as tarifas de importação - uma correlação que desagradava o Brasil. A vinculação desapareceu no novo texto e aceitar um acordo setorial significará apenas mais poder político na hora da barganha.
Para Estados Unidos, União Européia, Japão e outros países desenvolvidos, os acordos setoriais são uma contrapartida importante para a abertura na área agricultura. A inclusão do tema no texto é prova do empenho dos ricos. Logo no início do documento, no entanto, o mediador avisa que é apenas uma compilação das propostas dos países nas últimas semanas e não pressupõe consenso sobre o tema.
Constam do documento propostas para zerar as tarifas de importação dos seguintes setores: automóveis e autopeças, bicicletas, químicos, eletroeletrônicos, pesca, produtos florestais, pedras preciosas e jóias, ferramentas manuais, equipamentos médicos, máquinas industriais, equipamentos esportivos e brinquedos. Cada proposta foi entregue por um país ou grupo de países. Exemplos: o Japão apresentou o acordo para o setor automotivo, a China propôs o acerto em brinquedos, e os Estados Unidos pediram para químico e eletroeletrônico. Até mesmo o Uruguai é um dos autores de uma das propostas, a de pesca.
Os acordos setoriais são alvos de pressão de lobbies, como a poderosa Associação Nacional de Manufaturados (NAM) dos Estados Unidos. No início de 2007, a NAM chegou a negociar com a Fiesp uma lista de setores em que as tarifas poderiam ser reduzidas. O objetivo era criar um clima positivo sobre Doha nos EUA, mas a iniciativa não prosperou porque os setores que interessavam ao Brasil e aos EUA não coincidiam. Marconini disse que a Fiesp pretende fazer nova rodada de consultas sobre o tema, mas não espera obter sucesso.
Mário Branco, gerente de comércio exterior da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), disse o governo brasileiro já se convenceu de que a indústria não pode aceitar acordos setoriais. Ele ressaltou também que a proposta não seria aceita pelo Mercosul. "Estamos bem defendidos pelos argentinos", brincou. Segundo uma fonte da indústria automotiva, o setor quer acordos de livre comércio com alguns mercados, como a UE, mas acertos com o Japão, China ou Índia não interessam para as montadoras instaladas no país, com maioria de americanas e européias.