Título: Braz se entrega e deve dar a sua versão
Autor: Camarotto , Murillo
Fonte: Valor Econômico, 15/07/2008, Brasil, p. A7

Acusado de participar da tentativa de suborno a um delegado da Polícia Federal para beneficiar Daniel Dantas, o ex-presidente da Brasil Telecom Participações, Humberto Braz, entregou-se no sábado. Ele teve prisão preventiva decretada pelo juiz Fausto Martins de Sanctis, da 6ª Vara Criminal de São Paulo, no dia 4 de julho, acusado de corrupção ativa e era o único foragido entre os 24 que tiveram prisão decretada.

Há forte expectativa em torno do que Braz poderá dizer. Se confirmar em depoimento que partiu de Daniel Dantas ou do grupo Opportunity a ordem de suborno, a defesa do banqueiro pode se complicar. Outra hipótese é que ele assuma sozinho a responsabilidade.

O advogado Alexandre Lopes, sócio do escritório de Antonio Eduardo de Moraes, que cuida da defesa do executivo, informou que ele se apresentou voluntariamente. Um fato curioso, segundo o advogado, é que Braz, que mora em Ipanema, no Rio, teria tentado ser preso durante quatro horas, tendo dificuldade para se entregar porque não tinha cópia do seu próprio mandado de prisão.

Só ontem circulou a informação da prisão do executivo. A PF informou que Braz foi transferido para o Centro de Detenção Provisória (CPD) de Guarulhos, na Grande São Paulo.

Para a defesa de Braz entra em cena o escritório de um notório advogado criminalista. Antônio Eduardo de Moraes, de 39 anos, é filho de Evaristo de Moraes Filho, que defendeu o ex-presidente Fernando Collor de Mello no processo de impeachment, depois de ter ficado conhecido como um advogado que apoiou presos políticos durante a ditadura militar.

Esse é um traço comum dos Moraes e do criminalista Nélio Machado, contratado por Daniel Dantas. Machado é um dos mais prestigiados criminalistas do país, tendo atuado na defesa de Marcos Magalhães Pinto depois da quebra do banco Nacional, entre outros casos célebres.

A prisão preventiva de Braz foi decretada junto com a de Hugo Chicaroni. Os dois são acusados pela PF de oferecer US$ 1 milhão ao delegado Vitor Hugo Alves Ferreira, para que este excluísse de um inquérito policial os nomes de Daniel Dantas, de sua irmã e de um sobrinho.

A defesa de Dantas nega que ele soubesse de qualquer negociação nesse sentido, embora admita que o banqueiro conhecesse o executivo. Grampo da PF, entretanto, registrou diálogo entre Braz e Dantas sobre as investigações comandadas pelo delegado Protógenes Queiroz.

Braz, que presidiu a Brasil Telecom Participações, controladora da Brasil Telecom, no tempo em que a companhia era gerida pelo Opportunity, vinha mantendo contato com Dantas. Nos últimos anos, participou de várias negociações como representante do Opportunity envolvendo a BrT, inclusive no processo de venda do controle da operadora para a Oi.

Ele e Hugo Chicaroni são os únicos envolvidos na operação Satiagraha que permanecem presos. Chicaroni está na carceragem da Lapa, em São Paulo. Ontem mesmo chegaram dois pedidos de habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF) em favor de Chicaroni e Braz. O julgamento caberá ao ministro Gilmar Mendes.

Amanhã, Daniel Dantas presta depoimento à PF. Um membro da equipe de Nélio Machado disse que o empresário se manterá novamente calado, como fez no depoimento da sexta-feira. A defesa alega que não teve até o momento acesso a documentos apreendidos e que não houve tempo para ler as 6 mil páginas do inquérito.

Segundo um advogado da equipe de Nélio Machado, entre os motivos para o silêncio de Dantas está a total parcialidade da equipe do delegado Protógenes Queiroz, responsável pela operação Satiagraha. * Do Valor Online