Título: Marta critica superávit fiscal da prefeitura e contesta dívidas
Autor: Agostine , Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 15/07/2008, Política, p. A10

O lançamento oficial ontem da candidatura de Marta Suplicy (PT) à Prefeitura de São Paulo foi uma mostra da guerra de números e de acusações que a campanha eleitoral deve trazer. Do alto de um palanque improvisado no centro de São Paulo, Marta criticou a gestão municipal, comandada pelo prefeito e candidato à reeleição, Gilberto Kassab (DEM), por preferir 'rechear' o caixa municipal a investir na cidade. Já o prefeito criticou a ex-prefeita por ter deixado a prefeitura endividada e sem pagar milhares de fornecedores e prestadores de serviço.

Depois de uma caminhada de meia hora pelo centro de São Paulo, Marta fez um discurso curto, mas ácido contra seus adversários. A candidata do PT mirou em dois alvos: o prefeito e o PSDB, que governou a cidade com José Serra antes de o tucano deixar o cargo para Kassab, em 2006. Segundo Marta, o superávit bilionário da gestão Serra/ Kassab reflete a 'dificuldade' do governo de investir em serviços públicos. "Esse dinheiro não vai para remédio. Tem R$ 5,6 bilhões no banco e a gente precisando de creche, de hospital, de salário melhor para o funcionalismo...", disse. A gestão atual sucedeu a de Marta.

"Não sabem gastar o dinheiro e por isso o deixam no banco", declarou a candidata, no palanque montado em cima de um carro de som, em frente à Catedral da Sé. "É incapacidade porque dinheiro de prefeitura é para gastar com o povo. Não é para render juros no banco. E dinheiro público é serviço para população, para os idosos, para os carentes, para os que precisam."

Segundo a ex-prefeita, a gestão Serra/ Kassab iniciou-se com situação financeira melhor que a encontrada por ela em 2001. E, para não deixar de colocar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no palanque, ela disse que a prefeitura tem mais dinheiro em caixa por conta do governo federal. "Governamos com R$ 9 bilhões. Saímos com R$ 13 bilhões e hoje são R$ 23 bilhões. Graças a uma administração boa do presidente Lula, que fez a economia funcionar, o povo comprar e encher o cofre da prefeitura."

A campanha de Kassab contestou e saiu para o ataque: "Marta Suplicy cancelou empenhos no valor de R$ 578 milhões e este cancelamento, contudo, não foi acompanhado de uma solução para os credores atingidos", divulgou, em nota. No texto, a campanha de Kassab ressaltou que o superávit fiscal é sinal de "planejamento, gestão do dinheiro público" e em tom ríspido afirmou: "Marta Suplicy deveria ter vergonha de falar em finanças públicas. Ela faliu a cidade e deixou apenas R$ 18 mil no banco, com uma dívida vencida, só em restos a pagar, de R$ 750 milhões.

De acordo com a atual gestão, Marta não pagou cerca de 13 mil fornecedores e prestadores de serviços e deixou dívida de R$ 749 milhões. Já a ex-prefeita e candidata negou com veemência: "Foram acusações injustas, políticas. Hoje dá para ver com muito mais clareza, na medida em que temos as contas aprovadas pela Câmara (municipal), pelo Tribunal de Justiça e o arquivamento de tudo o que eles acusavam", declarou Marta ontem. "Todos os processos de não cumprimento de lei fiscal foram arquivados pelo Supremo Tribunal Federal". As cobranças dos 13 mil fornecedores, segundo a ex-prefeita, aconteceram por terrorismo da atual gestão. "Criou-se um clima de que não íamos pagar. Tudo foi pago. A prefeitura tinha dinheiro para pagar em janeiro."

Além das críticas ao prefeito e da defesa de sua gestão, Marta também usou o microfone do palanque improvisado para elogiar o presidente Lula, assim como fizeram os senadores petistas Eduardo Suplicy e Aloizio Mercadante, que a acompanharam. Na caminhada que Marta fez junto aos senadores, ao deputado José Genoino e ao seu vice, deputado Aldo Rebelo, Lula também foi lembrado em adaptações de músicas da campanha presidencial para a de Marta.

Os militantes não eram muitos, mas junto com cabos eleitorais pagos por vereadores do PT, PCdoB, PSB e PDT cantavam "Eu já falei, vou repetir, é Lula lá e Marta aqui", "Olé, olé, olé, olá, Marta, Marta", "Deixa Marta trabalhar" e "Eu quero de novo Marta Lá". Poucas eram as bandeiras das centrais sindicais CUT e Força Sindical, que apóiam a candidatura. Para ouvir o discurso de Marta, as cerca de 500 pessoas, segundo estimativa da Polícia Militar, ocuparam um terço da praça da Sé, onde fica a catedral.

A presença minguada dos movimentos sociais e entidades populares em uma campanha em que o PT é apoiado pelos partidos do bloco de esquerda foi sentida até mesmo por Aldo Rebelo: "Não houve, de fato, uma mobilização."