Título: Aneel decide legalidade do leilão de Jirau
Autor: Capela , Maurício
Fonte: Valor Econômico, 15/07/2008, Empresas, p. B8

O recurso movido pelo consórcio Jirau Energia será julgado hoje pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Liderado pela construtora Odebrecht e pela estatal Furnas, o consórcio questiona na agência a vitória do Energia Sustentável no leilão da segunda hidrelétrica do rio Madeira, Jirau. O grupo vencedor tem na composição a multinacional franco-belga Suez, a construtora Camargo Corrêa, além das estatais Eletrosul e Chesf.

Segundo a assessoria de imprensa da Aneel, o recurso do Jirau Energia já foi alvo de análise uma vez. E a comissão de licitação da agência entendeu que não havia procedência. "Hoje será apreciado pela diretoria colegiada durante a reunião pública ordinária da Aneel", informou.

Um dos pontos do recurso do Jirau Energia diz respeito à proposta de mudança do local de construção da usina. A idéia do consórcio vencedor é alterar a localização em nove quilômetros, transferido o empreendimento da cachoeira de Jirau para cachoeira de Caldeirão do Inferno. À época do leilão, que foi realizado em maio deste ano, a modificação foi apresentada com uma das principais justificativas para o forte deságio praticado pelo grupo liderado pela Suez.

O consórcio Energia Sustentável derrotou o Jirau Energia ao oferecer um preço 22% menor em relação ao valor-teto de R$ 91 por megawatt/hora (MWh) estabelecido pelo governo federal. O lance do grupo perdedor foi de R$ 85,02 por MWh.

Outra estratégia do grupo liderado por Camargo Corrêa e Suez era dividir a documentação em duas partes, sendo que uma delas seria entregue em meados deste ano. E esse apanhado de informação teria os detalhes da obra civil.

Dividir a documentação em duas partes e entregar rapidamente a primeira não é obra do acaso. Faz parte da estratégia do Energia Sustentável para colocar a usina de Jirau em funcionamento em dezembro de 2011, o que o obrigaria a iniciar a construção em março de 2009. E pelas regras do edital, o vencedor da licitação deverá começar a gerar energia a partir de dezembro de 2013.

Portanto, o sucesso dessa estratégia possibilitará ao consórcio vender até 4,1 mil MW médios no mercado livre do país antes de iniciar a entrega no mercado cativo, que ficará depois com 70%. E como esse mercado tem preços maiores, a comercialização desse montante ajudará o consórcio a amortizar o deságio dado na licitação.