Título: Perdigão cria programa para garantir recebimento de leite
Autor: Rocha , Alda do Amaral
Fonte: Valor Econômico, 15/07/2008, Agronegócios, p. B12
Empresa que mais agressivamente investiu no leite desde o ano passado no país, a Perdigão se estrutura agora para garantir a oferta de matéria-prima para processamento em suas regiões de atuação. E o esforço é para garantir oferta de leite não apenas onde já tem unidades, mas também nas regiões onde terá indústria no futuro, como em Bom Conselho (PE). Lá, a Perdigão constrói complexo industrial - com plantas de lácteos e de embutidos de carnes - que entrará em operação a partir do primeiro trimestre de 2009.
Nas regiões onde a empresa já está em operação em lácteos e também em aves e suínos - como Goiás - , a Perdigão busca garantir o fornecimento da matéria-prima com um programa para estimular aqueles que já são seus integrados a investirem também na produção de leite.
Com 446 integrados no sudoeste de Goiás, sobretudo em Jataí e Rio Verde, onde está seu maior complexo industrial, a Perdigão quer captar um bom volume de leite na região para levar a matéria-prima para Itumbiara, diz Ricardo Menezes, diretor de relações institucionais. Em Itumbiara, está uma unidade de lácteos da Eleva, comprada pela Perdigão em outubro passado.
A empresa deve investir na construção de posto de recepção e concentração de leite na região de Jataí. De acordo com Fernando Henrique Peres, prefeito de Jataí, a Perdigão sinalizou que poderia captar 300 mil litros/dia na região. Menezes diz que o estudo para esse investimento ainda não foi concluído.
O plano para Bom Conselho (PE) também é que parte da produção de leite seja integrada no futuro. Mas em um primeiro momento, a Perdigão aposta no programa Fideliza Leite, para garantir a oferta do produto quando a fábrica de Pernambuco entrar em operação. O programa será lançado oficialmente hoje no município, e está prevista a presença do governador Eduardo Campos (PSB).
Num segmento em que é difícil "segurar" o fornecedor por conta da instabilidade de preços, a Perdigão quer conquistar produtores - e já começou a fazê-lo em Bom Conselho, mais de seis meses antes de a fábrica entrar em atividade. "O Fideliza Leite é um programa de relacionamento que estamos estabelecendo para que quando Bom Conselho entrar em operação já haja relação comercial entre os produtores e a empresa", explica Menezes.
Até agora são 30 os produtores cadastrados - 20 já estão entregando leite para a Perdigão. Os 18 mil litros diários que a indústria recebe estão sendo transformados em leite em pó na Cooperativa Camila, em Alagoas, enquanto a Perdigão não tem processamento. Quando entrar em operação, a Perdigão deve processar 150 mil litros por dia, mas o projeto prevê capacidade total de 300 mil litros diários.
De acordo com o diretor geral de lácteos da Perdigão, Wlademir Paravisi, os 20 produtores já receberam, sob regime de comodato, os tanques para estocagem e resfriamento do leite. A parceria com a Perdigão também prevê assistência técnica e insumos - como ração e medicamentos - a preços de custo ao produtor. Isso foi possível porque a própria Perdigão acertou com uma empresa de rações a formulação do insumo.
A chegada da Perdigão já mexe com Bom Conselho, uma das maiores bacias leiteiras de Pernambuco. E também com os produtores. Caso de Valfrido Curvelo, que pretendia abandonar a pecuária de leite pela "falta de segurança em relação a preço" depois de quase 40 anos produzindo.
Ele chegou a produzir 1.000 litros de leite por dia em sua propriedade. Desanimado, reduziu para 500 litros. Mas Curvelo, que é veterinário, mudou de idéia depois que a Perdigão decidiu se instalar por lá. Até 2002, ele entregava leite para Parmalat, em Garanhuns, e ultimamente fornecia para o Laticínio Alami e para a Coaleão. A parceria com a Perdigão prevê pagamento de prêmio por qualidade do leite, informa o produtor.
Paravisi avalia que o número de produtores ligados ao Fideliza pode chegar a 500 no futuro.
No médio prazo, a Perdigão colocará em prática outro projeto, o Integraleite, em moldes semelhantes ao que tem em aves e suínos. Nesse programa de integração, a empresa vai repassar bezerras aos produtores de leite, que terão financiamento do Banco do Nordeste para pagar os animais. Segundo Paravisi, o Integraleite atenderia 10% da demanda de leite da empresa em Bom Conselho.
Para alavancar ambos os programas, a Perdigão está implementando uma fazenda experimental em Bom Conselho. O objetivo é desenvolver tecnologias de pecuária leiteira, como alimentos para os animais e melhoramento genético.
A integração no leite - para garantir oferta e melhorar a renda dos produtores - também faz parte de estudos da Sadia que não investiu diretamente em lácteos, mas fez uma joint venture com a americana Kraft, para produção de queijos. Apesar de ainda em fase embrionária, a empresa admite estudos nessa direção. Uma saída para melhorar a rentabilidade dos atuais integrados de aves e suínos seria estimular a produção de leite por parte desses agricultores . A matéria-prima poderia ser destinada à produção de queijo na joint venture que tem com a Kraft.