Título: Comércio varejista tem alta forte em maio
Autor: Lamucci , Sergio
Fonte: Valor Econômico, 16/07/2008, Brasil, p. A3

Depois da perda de fôlego em abril, as vendas no comércio varejista voltaram a crescer com força em maio, exibindo alta de 10,5% em relação ao mesmo mês do ano passado e de 0,6% sobre o mês anterior, na série com ajuste sazonal. O segmento de hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, que havia patinado em abril, subiu 8,4% na comparação com maio de 2007, mesmo num cenário de aumento da inflação.

As vendas de alguns bens fortemente dependentes de crédito seguiram robustas: as de equipamento e material para escritório, informática e comunicação aumentaram 29,9%, enquanto as de móveis e eletrodomésticos tiveram alta de 16,1%. Já o comércio varejista ampliado, que inclui veículos e motos e material de construção, teve um desempenho mais fraco, com avanço de 11,3% em relação a maio de 2007. Em abril, a alta tinha sido de 15,8%.

"Com o resultado de abril, muita gente falou em desaceleração das vendas no varejo, mas os números de maio mostram que isso ainda não ocorreu", afirma a economista Thaís Marzola Zara, da Rosenberg & Associados. De janeiro a maio, o comércio varejista cresceu 10,9% em relação aos cinco primeiros meses de 2007, mais do que os 10,3% registrados nos 12 meses até maio e os 9,7% de 2007.

Em abril, o segmento de hiper e supermercados cresceu apenas 0,5% sobre o mesmo mês do ano anterior e recuou 0,2% na comparação com março, na série com ajuste sazonal. Um dos motivos que explicam o resultado fraco é que a Páscoa neste ano caiu em março, como explica o economista-chefe da corretora Convenção, Fernando Montero. As vendas de hiper e supermercados são sempre elevadas na Páscoa, observa ele.

Em maio, as vendas do segmento voltaram a subir com força, respondendo por 39% da alta do comércio varejista no mês e sendo "responsáveis pela maior contribuição à taxa global do varejo", segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A alta dos preços de alimentos afeta o poder de compra dos consumidores, especialmente dos mais pobres, mas o aumento do salário mínimo pode ter ajudado a conter esse impacto negativo, acredita o analista Alexandre Andrade, da Tendências Consultoria Integrada. O reajuste de R$ 380 para R$ 415 entrou em vigor em março e entrou pela primeira vez no bolso de aposentados, pensionistas e assalariados em abril.

Andrade ressalta o forte crescimento das vendas de bens duráveis, como eletrodomésticos e eletroeletrônicos. O segmento de equipamentos e material para escritório, informática e comunicação registrou aumento de 5,1% em relação a abril, na série livre de influências sazonais, nota ele. "As condições de crédito estão começando a se deteriorar, mas não a ponto de desestimular as vendas no varejo", afirma Andrade.

A economista-chefe do Banco Real, Zeina Latif, também acredita que a oferta ainda abundante de crédito explica o bom desempenho das vendas no varejo em maio. No entanto, ela vê sinais de que uma desaceleração das vendas no varejo está próxima. Segundo Zeina, a inadimplência está em alta, a massa salarial real já tem crescido a uma velocidade menor e os bancos devem ser mais cautelosos na condução de empréstimos e financiamentos. "É um cenário diferente do registrado no segundo semestre do ano passado, quando todos esses fatores eram positivos", afirma ela, que projeta uma alta de 7,5% do comércio varejista no ano, o que implica uma desaceleração expressiva em relação aos 10,9% registrados de janeiro a maio.

Thaís aposta em perda de fôlego no segundo semestre, em boa parte porque a base de comparação será mais alta. "O crédito deve crescer menos, a massa salarial já dá sinais de desaceleração e no fim do ano já deve haver algum impacto do aumento dos juros, embora o maior efeito da política monetária deverá ficar para o ano que vem", diz Thaís, que vê uma alta inferior à dois dígitos para o comércio varejista em 2008.

O Instituto para Estudos do Desenvolvimento Industrial (Iedi) viu sinais de moderação do ritmo de crescimento das vendas já em maio. O Iedi observa que, no caso do comércio varejista ampliado, a alta de maio, de 11,3%, foi inferior aos 14,2% do acumulado no ano. Esse indicador inclui o segmento de veículos e motos, partes e peças e o de material de construção, que tiveram vendas muito significativas em abril. O primeiro aumentou 29,3% e o segundo, 19,5%. Em maio, o ritmo arrefeceu, mas os percentuais permaneceram elevados. As vendas de veículos e motos, partes e peças subiram 14%, acumulando alta de 21,4% no ano. No caso de material de construção, a elevação foi de 6,3% em maio. Nos cinco primeiros meses do ano, o crescimento ficou em 11,5%.