Título: Acordo tira Greenhalgh e Gushiken da CPI do Grampo
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 16/07/2008, Brasil, p. A6

Um acordo entre oposição e governo garantiu que dois dos principais nomes políticos citados pela Operação Satiagraha - o ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh e o ex-ministro Luiz Gushiken, ambos do PT - não serão convocados para depor na CPI dos Grampos da Câmara. A votação de requerimentos marcada para ontem foi adiada para hoje. E, entre os investigados, só Daniel Dantas será chamado.

Desde que foi criada, em fevereiro, a CPI não tinha nenhuma importância política dentro da Câmara. Com a percepção de que a Operação Satiagraha poderia ser levada ao Congresso por meio da comissão de inquérito, PT e PSDB indicaram novos integrantes para o colegiado. Gustavo Fruet (PSDB-RP) e Vanderlei Macris (PSDB-SP) foram indicados pelos tucanos para dar mais peso à bancada do partido. Domingo Dutra (PT-MA) e Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ) são os petistas recém-nomeados.

Embora os tucanos tivessem a intenção de convocar o banqueiro Daniel Dantas e o investidor Naji Nahas, além de Greenhalgh e Gushiken, o PT tratou logo de apresentar requerimentos de convocação de tucanos para constranger a oposição: o deputado Luiz Couto (PT-PB) pediu depoimentos de André Lara Rezende, Pio Borges, Pérsio Arida e Luiz Carlos Mendonça de Barros, todos integrantes da cúpula do governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB) durante o período das privatizações. O grupo de Dantas nasceu nesse período.

Com a manobra, a reunião foi inviabilizada. Mais de uma dezena de deputados se inscreveram para debater questões pouco relevantes. A reunião (que começou às 15 horas) só poderia seguir até às 16 horas, quando se iniciam as votações no plenário.

Assim que a sessão do plenário começou e a reunião da CPI teria de se encerrar, o relator da comissão, deputado Nelson Pellegrino (PT-BA), apresentou proposta de acordo. Nada seria votado ontem. Para hoje, só seriam incluídos na pauta os requerimentos de convocação de Dantas, dos delegados da Polícia Federal Protógenes Pinheiro de Queiroz e Romero Menezes, e do juiz da 6ª Vara Criminal da Justiça Federal de São Paulo, Fausto de Sanctis (que pediu para ser chamado e colaborar com a CPI).

Pellegrino negou qualquer acerto político. "O critério de escolha dos requerimentos foi o foco da CPI. Temos de apurar escutas telefônicas ilegais", afirmou. Perguntado sobre a ausência de Gushiken - que já até denunciou que teria sido grampeado ilegalmente pela Kroll -, tergiversou. "Vamos ouvir as pessoas que a CPI convocar primeiro. Depois analisamos isso. Se tivermos de chamar o ex-ministro, vamos chamar", afirmou.

Em conversa reservada, Pellegrino disse para Fruet que a única chance de convocação de Dantas seria por meio de um acordo. Se todos os requerimentos fossem votados ontem, seriam rejeitados.